segunda-feira, 23 de maio de 2011

axiomas de turistas

"todos, venhamos de onde viermos, temos medo. E todos queremos ser felizes: queremos dançar, beber, rir e fazer amor" - Eslovénia

domingo, 22 de maio de 2011

A garrafa de água... ou a mão... ou

O guia está sempre associado à ideia de que leva algo na mão que possa ser visível a 20 mil quilómetros de distância para que o seu grupo nunca o deixe de ver.

Eu... raramente ando com essa "marca". Mas em dias como o de ontem nos Jerónimos... Bem que precisava de letras néon a dizer Grupo da Cátia! Nunca vi tanta gente e sobretudo à tarde!!!

A opção de não andar com nada é para obrigar o meu grupo a seguir-me. Porque das poucas vezes em que tinha tal sinaléctica, foi das vezes que houve sempre alguém que deixou de me ver! Porquê? Porque acham que vão sempre encontrar-me e então afastam-se para mais uma foto, para mais uma risada e depois.. ops!
Quando não levo nada, sendo pequenina como sou, são obrigados a olhar para baixo e a não me querer perder! eheheh Funciona!

Mas ontem... números de barcos (e cá andam os guias a jogar squash, números que se repetem porque há vários barcos!), garrafas de água, flores, bandeiras, borboletas, bastões, fitas, chapéus, ... e mãos no ar.

A minha era mais uma.

E eles lá iam atrás :) A querer pôr a mão no ar também, a abanar o boné amarelo porque vão ao lado do guia a identificar o grupo (que orgulho!) ou a dizer "pegamos-te ao colo" eheheheheh.

Fá-los rir e lá vamos nós no meio da multidão!

Perguntas Pertinentes!!!

"Porque é que em Portugal há mais cães que gatos?"

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Por vezes uma vida minúscula

"O encanto de viajar está em todos os sítios onde vou, uma vida mi-núscula. Vou para o hotel, um sabonete minúsculo, champôs minúsculos, uma dose individual de manteiga, pasta de dentes minúscula, uma escova de dentes para usar uma vez e deitar fora."
- Clube de Combate

Turista árabe

"I would like to talk to your dad and offer him some camels for you!"

Contraste da noite para o dia

Na outra noite estava rodeada de senhores de negócios, europeus, cultos, cheios de decisões por discutir e no final ansiosos por espairecer.
Na manhã seguinte estava rodeada de brasileiros, velhinhos, das cidades pobres e perdidas da Bahia, que queriam atenção.

e aqui pergunto-me, se o mundo inteiro não devia passar por esta experiência da noite para o dia. Porque é mesmo da noite para o dia.

"não sei como conseguem ter vida pessoal na não-rotina"

Um dia após uma conversa fiquei mesmo a pensar nisto: a não torina da vida de um guia e o esforço para que possamos ter uma vida pessoal.

A vida de um guia é maravilhosa ahahah, mas enormemente trabalhosa e tão contrária à ideia de leveza, passeio, ar livre a sorrir o tempo todo que a maioria das pessoas imagina: "ah só tens que passear e apontar umas coisas à esquerda e outra à direita". O que eu gostava que essas pessoas experimentassem ser guia por um dia, um meio dia, uma panorâmica, um transfer!

É sem dúvida uma profissão que nos faz crescer. Tive uma professora de francês que dizia que a primeira coisa que admirava logo era aos 21 anos termoa a coragem de estar em frente a um grupo com 40 pessoas e guiá-los, ter a responsabilidade toda nos ombros. Hoje penso nisso a rir, mesmo, porque com o que sei hoje acho que aos 21 não teria tido essa coragem! É que a responsabilidade é tal que realmente somos loucos aos 21 em fazê-lo. Mas é aí também que bate certo, só pode ser aí, nessa idade, o começo de tudo!

Entramos numa bus e temos 40 caras desconhecidas que esperam passar dias felizes, memoráveis, em que tudo corre bem. E lá vamos nós, um programa que tem que bater certo, a horas certas, dinheiro nos bolsos que não é nosso, restaurantes para controlar, hotéis...
e começam as aventuras porque nem sempre o programa "cabe" nas horas ou nos dias em que os monumentos estão mesmo abertos, porque nem sempre o motorista descansou o que devia e está sorridente, porque por vezes chove e o cliente acha que no programa está incluído sol e quase nos bate, porque as pessoas chegam com stress acumulado e afinal querem é reclamar para descomprimir do que não podem gritar nos seus empregos, porque esquecem os comprimidos essenciais par anão morrerem e temos que ir à farmácia salvar-lhes a vida, porque têm 70 anos e no fundo querem é apenas atenção, porque nos fazem as perguntas mais absurdas ou porque falando de outro tipo de grupo... assim um incentivo - os senhores acham que as guias são apenas caras bonitas que têm que sorrir e que podem dizer as coisas mais estapafúrdias do mundo!
Vamos nos bus e subitamente o caminho tem que ser mais longo - adapta. Ou mais curto - adapta.

Lidar com pessoas, bastaria pensar nisso. Nós lidamos com pessoas de todos os países, religiões, raças, feitios... só isto... a calma, a tolerância, respeito que se aprende a ter é essencial. E isso é uma das coisas que mais gosto nesta profissão.

Ser guia fez-me crescer. Aprendi a ver o mundo de todos os olhares e a perceber que não há Uma visão correcta. Aprendi que as pessoas querem apenas ser felizes, mas nem sempre sabem sê-lo. Aprendi a ser responsável ao máximo, porque comigo vai o nome da agência, do restaurante, do hotel, da cidade, do país. Aprendi que Portugal tem tantos defeitos quanto todos os outros países e que não somos infinitamente piores.

E aprendi a dividir o meu tempo de Vida. Porque o guia não tem rotina. Trabalha quando há, por vezes fica 2 meses sentado em casa e depois 2 meses sem parar, manhãs, tardes, noites, nos horários mais absurdos do mundo! Mas vai e sorri.
Mesmo ao fim de 35 dias sorri e tem que repetir porque o senhor estava afalar e não ouviu, tem que ir à loja porque a senhora não sabe como dizer, tem que sugerir, tem que... sorrir. Dizer sim, estou aqui. Mesmo quando a nossa vida pessoal corre menos bem.
É que o guia não pode acordar e dizer: ah hoje estou sem vontade, vou telefonar a dizer que estou doente! Ah pois... o guia vai.

E no meio de tudo isso estão a família e amigos. Que como nós tiveram que aprender o que é ser guia, o que exige. Por mim falo, no início foi um pouco difícil: fins de semana outra vez? noites outra vez? tu não queres é ir jantar! Depois perceberam e ajudarm a tornar tudo possível!
Por isso hoje lembrei-me de agradecer à família e aos amigos que continuam aqui a aturar-me porque às vezes, depois de tours e de tantas pessoas acreditem que o melhor que nos sabe é silêncio. Mas logo a seguir: as nossas pessoas, a nossa língua, os nossos lugares.
E eu... adoro ser guia. E quando estou cansada e penso, não vou aguentar esta não rotina, quando entro num bus e o grupo é feliz e começo a falar de Portugal e as pessoas reagem com sorrisos e perguntas e fotos e elogios e o aperto no coração porque vamos deixar aquelas pessoas, fico com a certeza que não vou desistir nunca.

Porque não há como nos dizerem que sentem que amamos o que fazemos, que passaram dias bons que nunca irão esquecer, pessoas que sabemos que não as veremos mais, que nos aplaudem num aeroporto, que nos escrevem nos Natal, que tiram fotos, que saem de sorrisos na face e nos fazem chorar!

E então, todo o esforço vale mesmo a pena.

Fátima ou o mistério da perna

Acabada a visita ao santuário dirigimo-nos todos ao almoço.
Cerca de 120 pessoas, 3 guias e 3 motoristas.
Confusão habitual da chegada: uns correm para sentar não vá a comida acabar, os outros esperam os amigos e obrigam à dança das cadeiras para que se possam sentar juntos, a fila da casa de banho aumenta pois já não aguentavam mais, há aquele cujo amigo ficou para trás e faz-nos percorrer o caminho de volta para o encontrar, sobem escadas, descem escadas, o rodopio.

Numa dessas descidas de escadas...

Encontro-me à entrada do restaurante a conversar com uma senhora, por mero acaso olho para o cimo das escadas e reparo num senhor que começara a descer as mesmas, mas essa descida não foi normal, não foi degrau a degrau, pé a pé.
O senhor começa por parecer que vai escorregar. Penso em subir as escadas para o ajudar. Mas subitamente agarra-se com força ao corrimão e eu penso que já não tenho que me preocupar porque conseguiu equilibrar-se. Mas reparo melhor e a sua perna parece continuar a deslizar, e afinal as mão parecem escorregar. Mas a força é a mesma.
A minha mente sente-se confusa e nisto o senhor desliza por completo qual desenho animado ou filme cómico!
Cai, escorregando, deslizando, a fazer pum pum pum pum em cada degrau, chega ao fim das escadas de braços e pernas abertas, olhar perdido e eis que uma perna solta eleva-se no ar fazendo um círculo total e batendo na cabeça do homem!

Pensamento - ai meu Deus que o senhor morreu e saltou a perna! Saltou a perna??? Saltou a perna???

A prótese, saltou.

E eu, a senhora e depois reparo a outra colega estavamos paradas, de boca aberta, sem reação! Seria aquilo real?

Era, e corremos para o senhor a ajudar. Eu agarro a perna, as pessoas em volta procuram uma cadeira, ele queria colocar-se de pé, os outros gritavam: "mas não tem perna fique quieto", e a esposa finalmente chega.
Aparentemente, dizia ela nada preocupada e sorridente: "isto acontece a toda a hora!"

Sentamo-lo, limpam-se as feridas e eu dei por mim agarrada a uma perna falsa, com meia e sapato!

A seguir... a seguir tive que apanhar ar!!!!

O Padrão dos Descobrimentos

Foi a primeira visita guiada.

Aos colegas, será que conta?
eheheh

Conseguir prender um grupo de 30 jovens nos seus 19 anos não é fácil pois não? Mesmo sendo eu um deles.

Ver as caras atentas, os sorrisos, os acenos de cabeça, os ahs e ohs, fez querer continuar.

A essa turma que começou com 30 e acabou com 14, estando 5 de nós apenas a trabalhar... agradeço, foram anos bem divertidos.

E tudo começou

quando brincava com a minha irmã na nossa primeira casa.

A sala de jantar era o museu. Eu ficava à porta, ela comprava o bilhete e depois seguia a minha visita guiada. Percorriamos cada canto da sala, da lareira de mármore, ao relógio de corda, não esquecendo a mesa de madeira e aquele armário cheio de miniaturas.
Tudo tinha a sua história: data, local, porquê e importância.

No dia da escolha da profissão assinalei como primeira hipótese - GIN - Guia Intérprete Nacional, no Estoril.

Entrei.

E percorro este caminho com toda a alegria do mundo.

Estou onde devia estar. Esta escolha eu não duvido.