São mais que muitas as vezes em que ouço a pergunta: mas aqui é o Atlântico não é?
O largo estuário do Tejo confunde aqueles que não são daqui.
"Não pode ser um rio!?!"
"Tão largo?"
"Então mas o que fica do outro lado?"
Quantas e quantas vezes tenho que chegar a desenhar um mapa para que entendam que ali está um rio, e que a terra do outro lado é... uma margem!
O Tejo nasce na serra de Albarracín em Espanha (onde é chamado de Tajo), é o maior rio da Península Ibérica e deságua junto ao Forte do Búgio, já aqui em Portugal.
"Pelo Tejo Vai-se para o Mundo
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele."
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XX"
Heterónimo de Fernando Pessoa
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