quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Vou já mandar fazer!

Há uns tempos vivi um episódio engraçado, uma menina de 6 anos viu pela primeira vez uma fotografia. Eu tinha acabado de tirar uma polaroid e ela perguntou-me de imediato: "o que é isso?".

Primeiro pensei que era por nunca ter visto uma polaroid, mas depois percebi que ela nunca tinha visto mesmo uma fotografia. No instante seguinte fiquei um pouco perplexa, como poderia ser? Os pais nunca lhe tinham mostrado uma fotografia?
Mas, reflectindo perguntei para mim quando teria sido a última vez que vi crianças, pais e filhos a mexerem em fotos... do antigamente?! Talvez 6 anos não seja afinal, neste novo século, nada de especial.

Fez-me pensar nos meus primos pequenos. Eles cresceram já na era do Euro, do telemóvel, do ipad, da TV que anda para trás, do drone, da escada rolante, do elevador, das rampas, da ASAE, do takeaway, do home banking, do drive-in, dum montão de regras e novidades que eu acho que por vezes nem consigo imaginar (ou lembrar que já é real!).

Há uns meses, durante um dia a trabalhar a dar apoio na hospitality desk do grupo, que se situava ao cimo das escadas da recepção, uma senhora americana nos seus 70 anos opta por vir ter comigo pelas escadas e não de elevador.
Assim que termina de subir as escadas, diz-me muito chateada: "sabes que não há um corrimão nestas escadas?".

Inspira, expira, pensei para mim.

"Sim já notei", respondi-lhe.
"E não fazes nada?", pergunta-me ela.

Pensei em dizer-lhe que ía já - já mandar construir um, eu até sou dona e responsável do hotel!

"Sim, posso escrever na caixa de sugestões do hotel que deverão colocar um corrimão, mas agora quando descer, utilize ali o elevador à esquerda, por favor."

Não contente acrescentou, "como é que é possível haver escadas e não haver corrimão? Como é possível não haver escadas rolantes? Aliás, a cidade toda, como é que é possível vocês andarem nesta cidade?".

Sim, a senhora também achava impossível vivermos em Lisboa, imaginem se visse Alfama. Como é que é possível viver em Alfama e em prédios sem elevador?
E aqui pergunto-me: terá esta senhora de 70 anos esquecido que quando ela chegou ao mundo provavelmente o mais normal era subir a pé, era andar, era mexer o corpo para tudo?

A comodidade é precisa, é genial e muito beneficiou o Mundo, mas tornou-nos preguiçosos, física e mentalmente.

Não deixem que fiquemos autómatos. Recordemos que o tacto, o fazer com as próprias mãos, o construir, o mexer, faz de nós algo muito especial!

Como é que terminou a conversa? Mudando de assunto, porque os anos de profissão ensinaram-me que pessoas zangadas com a vida só querem alimentar-se de tal, logo o melhor a fazer é resolver o que quer que seja que a pessoa realmente precisa, o mais rápido possível e passar a outra tarefa!


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