quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fresquinha

"Porque estamos há mais de 5 minutos sem uma cerveja neste sol?" - alguém adivinha a nacionalidade?

eu sei que não devemos estereotipar, mas com eles é impossível não ouvir esta frase!

Se surgissem nos momentos em que são mesmo precisos...

Há duas coisas que atraem sempre a atenção de um grupo.
Duas coisas que retiram a atenção por completo e por longos minutos.
Duas coisas que fazem com que o grupo queira começar a tirar fotos sem parar, a comentar, a rir, a caminhar, normalmente, para o lado contrário de onde deveria ir.

Se ao menos essas duas coisas surgissem naqueles momentos em que precisamos! 
Nos momentos em que precisamos mesmo encurtar uma explicação. Mas não. Por norma surgem exactamente quando necessitamos que o grupo recupere tempo perdido para que possa cumprir horários e não o contrário (perder ainda mais tempo), e/ou em situações de grandes multidões levando a que facilmente as pessoas se percam.

   -  Noivas... noivas e os seus vestidos! "Não, temos que esperar pela noiva, temos que ver o vestido.", dizem-nos sempre.
    -  Animais... no acto de procriação! "ahahahahahah olha como ele se atira a ela, aahhahahah olha ela a fugir, ahahahahahah" e sentimo-nos no National Geographic.

A explicação? Essa já ficou perdida. 
O desafio está na estratégia encontrada para reunir o grupo e fazê-lo mover-se para onde é necessário o mais depressa possível. 
Ou então... juntarmo-nos a eles:  "Ah a noiva, vamos ficar à espera de vê-la? E a madrinha será aquela? E o noivo? Ah, vem ali o carro"! Por vezes sorrir e descontrair é o melhor.


terça-feira, 22 de maio de 2012

Jacarandá-mimoso

As Jacarandás estão a florir em Lisboa.
Adoro, adoro, adoro. O contraste do lilás/arroxeado com as cores de Lisboa e o sol que finalmente brilha dá à cidade  uma luz ainda mais própria e um perfume delicioso que paira no ar.
Para mim é como se fosse o primeiro dia de neve, mas com o bónus da neve ser colorida!

A Jacarandá é nativa da América intertropical e subtropical (Brasil, Argentina, Uruguai). As que chegaram aqui em Lisboa foram trazidas do Brasil e adaptaram-se facilmente devido ao clima temperado.

É a árvore perfeita para a arborização urbana (encontramo-la na Argentina, Brasil, África do Sul, EUA, Austrália, Nova Zelândia, México, entre outros). A sua flor é decorativa, cresce rapidamente, as suas raízes são pequenas não danificando os passeios e aguenta a pressão da poluição urbana moderada. 
O clima aqui é perfeito para ela: calor suficiente e pouco frio, pois a Jacarandá aprecia o clima subtropical,  enquanto jovem não tolera o frio excessivo, mas consegue ambientar-se a ele com o passar dos anos! Mas não tolera secas longas, ventos fortes ou salinidade no solo.
Tem a vantagem de não necessitar de poda ou de qualquer tipo de manutenção e resiste à maioria das enfermidades.

A Jacarandá pode atingir cerca de 15m de altura. Durante o Inverno perde todas as folhas, fica completamente nua, tornando quase difícil imaginar que por esta altura do ano nos presenteia com tantas flores coloridas até ao início do Verão. 
O seu fruto é utilizado no artesanato: de forma espalmada e arredondada, inicialmente verde, ao secar adquire um tom castanho e endurece, sendo perfeito para o fabrico de colares e pulseiras.  
A sua madeira é de excelente qualidade, tem um tom rosado e é usada para móveis, pisos laminados e aplicações no interior de automóveis de luxo, mas apenas a madeira do tipo jacarandá-da-bahia. No entanto como foi submetida a um intenso processo de exploração extrativista é, actualmente, uma espécie em extinção. Daí que os objectos feitos com a sua madeira sejam extremamente caros e raros de encontrar.

Por norma a Jacarandá floresce uma vez no ano, mas como nos últimos dois anos as temperaturas estiveram bem elevadas em Setembro e Outubro, algumas delas, floriram uma segunda vez.
Como não sabemos o que vai suceder este ano, aproveitem já e saiam à rua a fotografá-las! Passear por Lisboa fica ainda mais apetecível!
E se os turistas abrem a boca de espanto ao vê-las floridas!

(lembrete: como não há bela sem senão... quando a flor começa a cair, a Jacarandá liberta uma certa goma. Nunca notaram que a determinada altura do ano a calçada portuguesa fica um pouco mais pegajoso?)

                                            (site: trekearth)  - Avenida da Torre

        
                                                          (site: olhares)   - A flor e o fruto



                                                            (site: rat blue 62)  - A madeira (automóvel Fusca entre 1970 e 1973)




Regras de Autocarro

O autocarro, como qualquer outro transporte, tem as suas regras de segurança, mas talvez por não ser o transporte das situações que gerem um certo medo ao ser humano (como um barco no largo oceano ou o avião no imenso céu), este tende a achar que tudo é possível num autocarro e que as regras são um exagero. Creio que a maioria das pessoas pensa num autocarro como num carro um pouco maior.
Errado, é um meio de transporte que transporta pessoas, logo vidas, e que, pelas suas dimensões exige muito cuidado e atenção (e se os autocarros estão cada vez mais compridos!).

Não se pode pedir ao motorista para parar "só por um instante", para encostar ali naquela esquina ou para  subir um pouco o passeio. Um autocarro mede, pelo menos, 13 metros de comprimento, por isso não tem uma facilidade extrema em curvar, e a porta não abre e fecha com um simples movimento de um braço. Abrir e fechar portas levará vários segundos, pois são sistemas accionados por mecanismos electrónicos! Além de que não é como um pequeno carro que poderá passar despercebido no meio do trânsito e que a polícia poderá não ver! O autocarro é visto a metros e metros de distância!

O cinto de segurança é de uso obrigatório. Tal como num carro pode prevenir choques e quedas.

Em Portugal não se podem transportar cães ou gatos, sei que é algo que por vezes causa indignação a alemães e franceses, mas é regra nacional., assim, deve ser respeitada.

Comer e beber é também proibido. Nos casos em que acontece, é porque o motorista foi simpático e permitiu. Essa regra é internacional e incontornável, sobretudo nos chamados países civilizados. Além de que um autocarro pode no mesmo dia ter mais do que um serviço. Se o grupo da manhã o sujar ele irá assim para o serviço da tarde. Se o grupo da manhã apreciou ter um autocarro limpo, provavelmente o da tarde irá apreciar o mesmo. 
Pergunto-me por vezes porque pessoas que, nos seus países respeitam ao extremo todas as regras, quando chegam a Portugal pensam que é má vontade não deixar comer ou beber. Se não se debatem com a lei no país de origem, porque a criticam noutro país e não a querem respeitar?

É proibido entrar num autocarro com garrafas ou copos de vidro. Motivo: segurança. 
Se o motorista necessitar de travar mais bruscamente, a pessoa corre o risco de levar o copo à face, à garganta ou a qualquer outra parte do corpo. Mas, explicar isto a turistas após um jantar quando já estão bem mais alegres, alguns mais alegres do que aquilo que é permitido por lei, tudo torna-se muito complicado. E lá tem o guia que andar a tirar copos das mãos esboçando um sorriso para não ser levado a mal por não deixá-los beber mais, mas na verdade era para prevenir acidentes sérios!

Obviamente, as pessoas não são obrigadas a conhecer a lei, por isso o guia e o motorista têm o dever de informar todos os passageiros de modo a que se cumpram as regras e, caso haja uma operação stop, que não sejam multados por incumprimento da mesma. O nosso dever é tornar a viagem o mais segura possível. Mas, em certos casos, a decisão final está nas mãos de cada um. Por exemplo, não colocar o cinto de segurança depois de ser avisado é uma decisão individual, então a multa será entregue à pessoa que não o colocou.

Assim como num avião, num autocarro existe um limite de tamanho e de peso para as malas que se colocam por cima do passageiro, porque, se caírem, o peso poderá ferir seriamente alguém.

Certo dia, o motorista alertou-me para um casal que queria transportar uma mala típica de porão na parte dos passageiros. Fui ter com a senhora e informei-a que não deveria fazê-lo, que a lei não o permite. Respondeu-me que era uma câmera de filmar muito cara e que tinha medo de a danificar no porão. Disse-lhe que a colocariamos com todo o cuidado, mas que seria melhor ir lá em baixo. Disse-me que não, que preferia colocá-la perto de si. Informei-a que, caso a polícia nos mandasse parar e entrasse no autocarro, ela poderia levar uma multa de 250€. A intenção foi apenas de informar, porque se a polícia a quisesse multar e se não tivesse sido informada, facilmente as culpas seriam atribuídas ao guia e ao motorista por "falta de aviso, porque se tivesse sido avisada, cumpriría a lei!"  
A senhora ficou mais apreensiva e alertou o marido. Este comentou prontamente, como se eu não estivesse ali: "that's rubbish, what a ridiculous thing to say" e praticamente atropelou-me para se sentar.
Com toda a calma que consegui ter, abrindo um sorriso, voltei-me para trás e disse-lhe: "It's not rubbisch sir, it's the law. I'm just informing you. Now it's your decision. Thank you.". A polícia não apareceu. 

É nestes momentos que penso que aprendo a Vida: se o senhor tivesse parado para pensar um pouco mais, teria percebido que, em prol de um interesse próprio, estaria a colocar não só a  sua vida em perigo, como a de qualquer outro passageiro perto dele, caso algum azar acontecesse. Esta profissão ensina-me todos os dias como é importante sermos cordiais, sabermos respeitar e olhar pelos outros, porque talvez aquilo que  nos estão a dizer seja importante e seja com intuito de ajudar e não de prejudicar. Calma e respeito são essenciais na vida e se todos estivéssemos mais atentos talvez o mundo fosse um local mais calmo e carinhoso.

                                          (imagem site pó dos livros)


terça-feira, 15 de maio de 2012

Um outro desabafo

Enquanto que as outras nacionalidades perguntam simplesmente se a pessoa fala determinada língua, numa frase dentro deste género: "do you speak english? sprechen Sie deutsch? hablas castellano?" os franceses perguntam sempre: "vous parlez BIEN le français?"

e se uma pessoa disser que não, que não fala bem, eles vão logo embora? 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Aqueles momentos mais...


Em jeito de desabafo, é tão difícil reagir:

- ao cheirinho do pé descalço por cima do banco do Guia. Quando há alguém que descalça o sapato e fica ali a abanar o pé como se o Guia não estivesse sentado no banco mais abaixo e o pé não estivesse quase a tocar no seu nariz!

- quando a pessoa acha que para ouvirmos bem o que está a dizer, fala a uma distância de 5 cm da nossa face!

suspiro

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Anthony Bourdain No Reservations - Lisbon

Lisboa

Não temos ligação directa a São Pedro

A pergunta que menos gosto de ouvir é: "Qual é o tempo que vai fazer?" e todas as suas variações.
No meu dia a dia nunca ligo às previsões metereológicas. Não acho que seja uma ciência muito exacta, por isso não costumo escolher a roupa no dia anterior tendo em conta o que disseram na TV e nem planear férias ou outro evento qualquer tendo em conta as mesmas fontes.
No entanto a maioria dos turistas gosta de saber a previsão do tempo, ou mais do que isso, gosta de ouvir que a previsão será... SOL. 
Quando temos que dizer que a previsão é chuva, eles perguntam sempre: "de certeza? mesmo? não é nada. Tu vais fazer alguma coisa por isso não vais?". Se fosse possível, acreditem que faria!

Desde que começou esta época de trabalho, os dias solarengos têm sido realmente raros. Chegamos aos hotéis para começar os tours com dias enublados e a ameaçarem chuva. Quando o grupo sai, começam logo as perguntas: "vai chover?" "vai melhorar?" "não é preciso o guarda-chuva pois não?"
Eu não sei a resposta certa. Não sei. Eu olho para o céu e penso... vou prevenir-me e levar o guarda-chuva, assim se chover sempre estarei protegida. Mas os olhinhos deles anseiam pelas palavras: "Vai fazer sol, não se preocupem." e na maioria das vezes acabo por ser a única a sair com guarda-chuva! Horas depois estão todos molhados e andamos na busca de capas e guarda-chuvas! 
Porque não se previnem como fazem quando estão em casa?

E hoje foi assim em Sintra:


Chuva, humidade e uma senhora de um outro grupo caiu no Palácio e partiu a perna.
Sol, quando chegas?


Várias fontes

Seis da manhã, chegada de grupo ao aeroporto. Chovia mais que muito.
Enquanto colocavam as malas no autocarro, um senhor dirigiu-se a mim e perguntou-me apontando para trás e para o ar: "What is that water?"
Olhei para o céu, seguindo a direcção da sua mão e pensei: chuva?!? Reflecti. Não, ele não estaria a perguntar da chuva!
Olhei em volta, via apenas chuva, poças de água, nevoeiro, mal viamos o autocarro ao nosso lado: "I'm sorry sir? That water?"
Respondeu-me: "Yes, that water" apontando ao mesmo local.
Desenhei mentalmente a área do aeroporto à minha volta.
Respondi meio a medo: "The river."

"Oh it's a river not an ocean. Ok." - sorriu e entrou no autocarro.

Eureka, adivinhar a mente dos turistas torna-se um dom!