terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Aeroporto


Outra função de um Guia-Intérprete é dar apoio no aeroporto. Tanto nas chegadas como nas partidas.

Pode até parecer que não há necessidade de um guia para uma partida, mas nem sempre chegar e embarcar é algo simples.
Chegamos com o grupo, verifica-se qual o balcão de check-in, dirigimo-nos para o mesmo e aguardamos até que a última pessoa do grupo faça o check-in. Nesse entretanto tantas coisas sucedem: um passaporte que ficou no hotel, temos que arranjar forma de o trazer a tempo; umas chaves de casa que ficaram no cofre do quarto de hotel, temos que arranjar forma de as trazer a tempo; um vôo cancelado, temos que arranjar forma de ajudar o grupo; excesso de peso, neste caso podemos começar por tentar que a hospedeira de terra não cobre os quilos extra, depois podemos aconselhar a pessoa a abrir a mala e a distribuir o peso pela mala de mão, a vestir mais um casaco, mas não havendo solução, indicamos onde proceder ao pagamento do mesmo (certo dia tive um senhor que pagou exactamente o mesmo que o seu bilhete!); bagagem fora de formato, indicamos qual o balcão a dirigir-se; tax free; e por fim a entrada para a área de embarque.
Muitas companhias aéreas têm agora o fast check-in... de rápido por vezes tem mesmo muito pouco! Os alemães têm feito muitas queixas; a máquina nem sempre é perceptível, a pessoa tem novamente que ter consigo os papéis com os códigos de reserva e quase nunca conseguem os lugares que queriam. Além de terem que se dirigir a uma segunda fila - a bagagem. Sem mencionar a quantidade de vezes que se fica à espera de um auxiliar porque o sistema bloqueou!

As chegadas têm tantas outras aventuras.
A simples: temos o placard com o nome do grupo, colocamo-nos no espaço reservado aos profissionais de turismo, esticamos o braço para que vejam bem a sinalética ao chegar. O grupo identifica-se e encaminhamo-nos para a saída e respectivo autocarro.
A complexa: um dia inteiro a receber pessoas de vários vôos. Recebemos uma lista com a indicação dos vôos e dos clientes que chegam em cada um. Conforme o número de pessoas podemos ter um carro, um mini bus ou um (ou mais) autocarro para o transporte. O Guia-Intérprete fica responsável de verificar que o transporte está a horas, de receber as pessoas e levá-las ao mesmo. Tudo isto parece fácil quando temos um vôo de hora a hora e com poucas pessoas.
Tudo fica mais complicado quando os vôos têm diferença de 10 minutos e em cada um deles chegam 10 pessoas (para não dizer 40 ou 50). Gerir estar em frente à placa com o nome do grupo, fazermo-nos ver, pedir às pessoas para virem ter connosco de modo a verificar o nome e levá-las ao transporte... não é fácil.
Por vezes, por mais placas que tenhamos há pessoas que não nos vêem. Por vezes enquanto levamos o cliente ao transporte, chegam outros (e é tão agradável quando colegas e motoristas percebem e pedem às pessoas para aguardar porque sabem que voltamos). Por vezes os vôos atrasam ou adiantam e tornam a tarefa ainda mais difícil. Por vezes 50 pessoas com malas parecem ocupar o aeroporto todo e quando pensamos que as contamos todas, falta aquele que foi ao WC ou a que está a fumar lá fora.
Por vezes não comemos. Por vezes o cliente não embarcou no vôo esperado e aparece sem sabermos bem de onde. Por vezes temos indicações de vôos que não existem e tentamos adivinhar a que horas será a chegada real tendo em conta a origem do mesmo.
Por vezes já nem sentimos as pernas porque estamos 12 ou 14 horas de pé.
Por vezes já gelamos porque faz imenso frio em frente à porta das chegadas.
Mas sempre, sempre sorriremos assim que a pessoa chegar.
E quase sempre, sem saber muito bem explicar porquê, acertamos logo que aqueles são os nossos clientes.
Esse seria um estudo interessante a fazer sociologicamente!

E é tão bom quando esses dias são partilhados com colegas.
A foto foi no dia em que dissemos "adeus" a um grupo de 200 brasileiros. (falta a Marta Cunha)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Vigésimo Nono Quadro

"-Rosabianca, afinal não tens os cabelos verdes!
- Verdes?
- Sim. Eu pensava... Pelo menos não podia pensar que não fossem verdes... E que não tivesses sido salva por mim do fogo!
- Do fogo?
- Sim. Porque te admiras? Do fogo. E nunca foste enfermeira.
- Enfermeira?
Encostados a uma grade, viam quase sem ver Florença lá em baixo.
- Porque perguntas? Não posso gostar de ti, Rosabianca! Pensei que tinhas cabelos verdes e que te salvava do fogo... Mas nada disso sucedeu.
Rosabianca apertou-lhe o braço com força.
- Giovanni! Se queres, pinto de verde os cabelos, subo para um quarto andar e deito-lhe fogo. Salvas-me?
- E fico ferido? Serás a minha enfermeira?
- Sim, se quiseres serei a tua enfermeira.
- Está bem, Rosabianca. Sobe lá para o telhado que eu vou deitar fogo à casa."

Augusto Abelaira, A Cidade das Flores

(obrigada pelo apoio Fabrice Pinto *)

UTR

"a boca arqueada e trémula como no amor, quando não sei se gozas ou sofres.
Bebendo na boca um do outro os restos da noite, Licínio sentia-se infinito"

Urbano Tavares Rodrigues, Carnaval Negro

Missão Cumprida


Ontem estava a fazer arrumações e encontrei estas cartas... Fui abrindo uma a uma e relembrando estes grupos.
São as pequenas cartas de agradecimento por um trabalho ter corrido bem.
São pequenas palavras a agradecerem o esforço, a dedicação, os sorrisos, um tempo que passou bem e que deixa boas marcas em todos.
Não lembrava que tinha deixado estas nessa gaveta, fui já juntá-las às outras. Às de papel e às virtuais que teimo em colocar em papel!

Receber essas pequenas grandes palavras deixa sempre um sorriso na face e aquela sensação de que a missão foi cumprida.

obrigada a vocês também

No fim de contas


"No fim de contas, o que era o amor das pessoas senão aquela cena do trapézio voador, dando as mãos, a fazer saltos mortais com a rede, sem a rede, e no fim, se é que havia fim, a fazer vénias de ginastas e a sumir por detrás dos reposteiros?"
Agustina Bessa-Luís

(e Lourdes Castro)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

À espera do Senhor X


Foi um daqueles dias de aeroporto, em que ficamos o dia todo a receber os participantes de um congresso que chegam em vôos diferentes. As últimas chegadas custam sempre um pouco mais porque, após 10 horas em pé de braço estendido a mostrar o cartaz, já todos os músculos doem!
Esperava os últimos vôos, perto das 23h/00h. A essa hora o aeroporto está bem mais calmo. Esses vôos chegam sempre com menos gente e penso que as pessoas têm a iniciativa de voltar para casa de táxi, para que familiares e amigos estejam já no conforto de casa e não necessitem de sair.
Por norma não há muitos colegas também "na espera".
Nessa noite eu era a única guia, mas estavam ainda uns 4 ou 5 motoristas à espera dos seus clientes.
Um deles segurava o cartaz que dizia: Senhor X.
Quando ficamos horas na espera é impossível não observar as pessoas e não fazer comentários: a roupa, as pessoas, a reacção, qualquer coisa.
A certa altura sai uma mulher: alta, com um corpo escultural, um peito daqueles que certamente os homens gostam, cabelo comprido, roupa muito bem escolhida.
Os motoristas de imediato reagiram!
Confesso que seria impossível não o fazerem!
No meio dos comentários cheios de piropos e a indagar-se se haveria alguém à espera dela... ela pára... observa... estende o braço... aponta o dedo... e diz:
"Senhor X, sou eu!"

o silêncio misturado com o nervoso do riso foi... INDESCRITÍVEL!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Gérard Castello-Lopes



Fotógrafo.

Primeira e última vez? diamantes


Em 2010 estive a trabalhar para o Mundial de Futebol na África do Sul.
Não exerci a função de guia, mas a de project manager, ou seja, eu era responsável pela gestão do programa escolhido pelos diferentes grupos. Certificava-me de que tudo o que estava planeado, acontecia. Cada grupo tinha o seu guia para as explicações locais e eu geria o todo: saídas de hotel, passeios, bilhetes, horas das refeições, ida para o os jogos, guias, autocarros, pedidos extras, etc.

Certo dia, durante o tempo livre para compras, no jogo da final, um dos clientes pediu ao seu guia para o ajudar numa compra específica: comprar 2 anéis de diamantes!!!!!
Precisava do guia para fazer a tradução da compra. No entanto perguntou-me também se eu poderia ir, pois as minhas mãos eram muito parecidas com as da sua filha!
Experimentar diamantes? Confesso, com todos os dilemas morais associados a diamantes...Fui! eh eh eh
Entramos numa das melhores joalharias de Joanesburgo.
O ambiente torna-nos logo pequeninos, ou com medo de partir alguma coisa! Convidam-nos a sentar em cadeiras estofadas de veludo, ouve-se música clássica, muitos sorrisos e educação. A senhora pergunta o que procura para tentar levar à escolha do anel perfeito. Pedras maiores ou mais pequenas, muitas ou uma só, qual a origem dos diamantes, o tipo de corte, a cor, eu sei lá!
20 minutos depois de todos estes pormenores servem-nos champanhe!
Milhões e milhões passaram nos meus olhos. A loja... não estava propriamente vazia. Sacos saíram dali.
A certo ponto o senhor pede-me então que experimente uns quantos anéis. E eu... lá fiz o sacrifício. Quatro, foram quatro os anéis que coloquei no anelar direito.
"Qual gosta mais?" Por instantes fingi que a pergunta era verdadeiramente para mim. E escolhi o que gostava mais. Ele viu e observou e reviu e acabou por levar para a sua filha o que eu mais gostei. Era realmente simples e bonito. Suspiro. Espero que tenha gostado.

A seguir foi a escolha do anel para a esposa. Enquanto escolhia diz-nos assim: "Quero o melhor. No meu aniversário a minha esposa ofereceu-me uma noite com outra mulher, acho que é um bom presente de agradecimento ou não?"
A nossa resposta foi: olhos bem abertos e silêncio! Seguidos de: "sim, sim!"

como é que dizia mesmo a Marylin?????

A verdade é que saí da loja a pensar:
- diamantes são verdadeiramente bonitos e qualidade é qualidade
- depois lembrei-me do filme Blood Diamond
- e por fim pensei: as relações humanas... realmente cada um sabe de si e encontra o seu modo de ser feliz.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Regressar ao Berço - Encontrar, Criar, Sentir e Rensacer

No final do século X após a morte de Ermegilde Mendes, a condessa Mumadona Dias, funda um mosteiro nas terras de Vimaranes. Rapidamente, devido à fertilidade da terra, cresce um povoado e à sua volta é construída uma muralha para protecção do mesmo. Este é o início de Guimarães e a estátua da condessa encontra-se ainda na cidade.
Em 1095 os mouros encontravam-se já na Península Ibérica. As terras do norte de África estavam em constantes batalhas e alguns mouros, devido à proximidade geográfica e a um clima semelhante passam para a península e instalam-se aí. Aos poucos subiram em direcção ao norte e invadiram os territórios ibéricos.
Por sua vez, os cristãos da península refugiam-se, agrupando-se a norte, organizando mais tarde a Reconquista dos territórios perdidos para os mouros.
O rei Afonso de Leão governava o condado mais importante da Península Ibérica e é a seu pedido que os Cruzados do sul da França chegam à Península Ibérica para ajudar na Reconquista Cristã. Como recompensa pela ajuda e pelas vitórias são lhes oferecidas terras. A D. Henrique de Borgonha, casado com D. Teresa filha de D. Afonso de Leão é entregue o Condado Portucalense: um território entre o rio Minho e o rio Douro. Aí nasce o filho deste casal: Afonso Henriques em 1109, três anos depois o Conde D. Henrique morre e D. Teresa fica responsável pelo Condado.
Afonso cresce e segue o sonho de seu pai: tornar o condado independente de Leão e Castela deixando de prestar vassalagem e de pagar impostos a esse outro reino. Afonso almejava total autonomia e liberdade. No entanto a sua mãe era contra, diz-se que tinha como amante o Conde de Trava e por isso defendia a aliança com Leão e Castela.
Afonso não desistiu e conseguiu reunir apoiantes. Em 1128 dá-se a Batalha de S. Mamede: filho contra mãe. Afonso ganha e toma o poder do condado Portucalense nas suas mãos.
Em 1139 na batalha de Ourique começa a reconquista dos territórios aos mouros para sul e ao vencer D. Afonso Henriques passa a afirmar-se "Rei de Portugal" e começa assim o início da formação de Portugal.
Em 1143, no Tratado de Zamora, o rei de Leão reconhece D. Afonso Henriques como rei de Portugal e em 1179 o Papa Alexandre III, através de uma bula reconhece Portugal como reino independente. O reconhecimento mais importante.
Guimarães era a capital do reino, ainda hoje chamada o Berço da Nação.

2012 - Guimarães é a Capital Europeia da Cultura. Edifícios privados e públicos, ruas, largos e praças, ganham ainda mais vida e abrem os braços para acolher todos os portugueses e visitantes de fora. De 21 de Janeiro a 21 de Dezembro Guimarães será um palco de visita obrigatória. Fotografia, cinema, música, conferências, dança, teatro, história, passado e presente.
Não perca esta oportunidade. Toda a festa divide-se em 4 ciclos: de Janeiro a Março "Encontrar", de Março a Junho "Criar", de Junho a Setembro "Sentir" e de Setembro a Dezembro "Renascer".

deixo-vos o site: http://www.guimaraes2012.pt/

A festa começa sábado 21 de Janeiro às 18h00 com La Fura dels Baus. Promete!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Apoiar o Guia Intérprete Nacional

Apoiem este movimento em defesa da profissão de Guia-Intérprete. Os Guias portugueses são os melhores da Europa, ajudem a que a sua qualidade seja protegida. Registem-se e apoiem, obrigada.

http://www.portugal.gov.pt/pt/​o-meu-movimento/​ver-movimentos.aspx?m=36
www.portugal.gov.pt

Malhão!!!!


Os grupos de indianos são por norma muito musicais. Adoram ouvir as suas músicas, trazem cds que pedem para colocar a toda a hora, por vezes dvds e acima de tudo adoram cantar (com ou sem apoio de um cd!). Adoram mesmo. E o ambiente pode tornar-se bastante alegre e ritmado.
Cantam em grupo, marcam o ritmo, levantam-se para dançar até que temos que pedir para sentarem, ou escutam atentamente o cantor que se destaca aplaudindo no final.

Certa vez a senhora que queria muito cantar até não tinha assim uma voz muito agradável, mas a pedido entreguei-lhe o microfone para que cantasse.
Cantou a primeira, a segunda, a terceira, todas elas músicas tristes, um pouco na mesma linha de harmonia e no tom agudo, com o detalhe de que a senhora até não cantava assim tão bem, mas ninguém pedia para que parasse.
E assim ela continuou: a quarta, a quinta, a sexta (eu e o motorista já nem sabiamos distinguir quando terminava uma canção e começava outra). A dada altura pensei que não conseguia ouvir por muito mais tempo. E o motorista olhava-me desesperado.
Precisavamos de um plano. A nossa primeira opção foi baixar o volume do microfone, mas apesar de ter ajudado as outras pessoas do grupo, a nós não ajudou nada. Pois a senhora estava sentada praticamente ao nosso lado agarrada ou colada ao microfone e ouviamo-la na mesma.
Pensei então em dizer-lhe que precisava mesmo de explicar algo.
Ela cedeu.
Comecei a falar. Passaram uns minutos e fiz uma pequena pausa, mas planeava até continuar a explicação.
Pensei errado, pois nesse pequeno segundo de pausa vi apenas uma mão a voar, arrancar o microfone da minha mão e a continuar o seu concerto.
O motorista não conseguiu evitar rir e eu rendi-me.

Outra vez o grupo era verdadeiramente animado e muito mais do que ouvir as minhas explicações, queria cantar e dançar. No autocarro a acompanhar o grupo estavam mais 2 portugueses (os chefes do grupo). Dirigiamo-nos a Fátima. Explicações de Fátima só as consegui dar in loco. Os 115Km foram todos dignos de um filme de Bollywood.

No regresso o cenário ficou um pouco mais temeroso: "e músicas portuguesas Cátia?"
Esta é uma pergunta que temo, devo confessar. Além de não memorizar nunca uma única letra seja de que canção for (excepto os parabéns e o atirei o pau ao gato!), tenho péssima voz.
Neguei a sorrir. Mas eles insistiram. Voltei a dizer que não. E insistiram. E eu a pedir por favor não e eles a insistirem. Confesso que esta cena demorou algum tempo e percebi que ao contrário do que normalmente acontece, eles não iriam desistir. Os chefes de grupo tocados com tanta insistência olharam-me com aqueles olhinhos de "de certeza que não?" E começaram a querer lembrar-se de canções típicas portuguesas também elas cheias de ritmo.
...
e pela única vez até hoje cantei no autocarro juntamente com os outros portugueses: "oh malhão malhão tum tum tum que vida é tua tum tum tum..."
Rio às gargalhadas ainda hoje a rever este episódio e quando encontro esse casal é impossível não falarmos disso. Custou, mas a verdade é que ri-me imenso e as caras deles felizes a baterem as palmas valeu toda a vergonha que tive!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

kosher, hallal, sem glúten...lagosta...dietas


Escolher uma ementa não é algo fácil e rápido. A ideia de que basta escolher a gastronomia local está errada.
Apresentar a gastronomia local é certamente uma boa escolha, mas não estereotipando e já o fazendo, as nacionalidades têm ingredientes e formas de preparar um prato que realmente gostam mais que outras. Além de algumas nacionalidades "temerem" experimentar sabores novos!
A escolha acertada é a mescla do local com o apreciado pelo cliente e assim a refeição será um sucesso!
No entanto há um ponto que não deve ser esquecido - a dieta alimentar que pode interferir com a cultura ou o bem estar físico dos clientes, ou seja, dietas alimentares como: vegetariano, sem glúten, kosher (produtos que obedecem às leis judaicas), hallal (segundo as leis islâmicas), diabéticos, alergias (nozes, marisco, morangos...).

Há anos atrás estas dietas chegavam a ser esquecidas, mas felizmente actualmente isso não acontece. E na maioria dos casos as agências colocam a questão da dieta alimentar ao seu grupo, pedindo para que cada um responda se tem alguma dieta que deve ser respeitada.
No entanto penso que por vezes as pessoas não entendem que essa referência é às dietas mariores e acabam por escrever coisas como: não gosto de alface; ou não gosto de pinhões; ou não como peixes vermelhos ou só gosto de chocolate.
Assim menús que poderiam ter no máximo uma opção de 3 pratos, acabam por ter por vezes 10 dietas diferentes (pois a agência quer dentro do máximo possível, corresponder ao pedido dos seus clientes).
Na hora da refeição é, por vezes, entregue ao Guia-Intérprete a lista das dietas: o nome da pessoa, seguido do prato que lhe irá ser servido e com a indicação de como identificar essa pessoa. Quando o grupo é pequeno e fica ainda alguns dias, acabamos por memorizar os clientes com as dietas especiais. Mas num grupo de 150 pessoas essa tarefa torna-se mais difícil, aí é utilizado um sistema de cores para cada dieta. Imaginemos: verde - vegetariano, amarelo- kosher, vermelho - sem glúten... É-nos entregue, por norma, um pequeno autocolante redondo das várias cores que colocamos ou na cadeira ou junto ao copo de modo a que o empregado de mesa identifique a dieta e assim sirva o prato correcto à pessoa certa.
Prático, não é? Mas montar todo este esquema é de louvar. Os agentes de viagem têm realmente um trabalho de paciência!

Certa vez fui contratada para ficar na Welcome Desk no hotel. O grupo chegava, eu entregava-lhes a documentação necessária para o evento e nos dias seguintes estava na desk para prestar qualquer esclarecimento da cidade ou do programa.
No dia da chegada tinha que efectuar a pergunta das dietas e assinalar. Assim fiz ao longo do dia. Anotei tantas e tantas opções até que...
"Tem alguma dieta especial, sir?"
o senhor fez uns segundos de silêncio... disse-me depois a sorrir: "Eu... só posso comer caviar e lagosta!"

Rodrigo Leão



arrepios na pele

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O eléctrico 28 - o do desejo!

Os franceses são os mais apaixonados pela viagem no eléctrico 28.
Querem descobrir o charme e a beleza de percorrer as colinas de Lisboa naqueles velhos eléctricos que tanto chiam. Vibram quando o guarda freio puxa pela "buzina". Arregalam os olhos quando se aproximam as descidas íngremes em curva. Por vezes pedem: "mais depressa" como crianças pequenas.
Levantam-se dos bancos com pena quando termina a volta.

A 17 de Novembro de 1873 é inaugurada a primeira linha de "americanos" entre a Estação da linha Férrea Norte e Leste (Stª. Apolónia) e o extremo Oeste do Aterro da Boa Vista (Santos). Era assim que se denominava o eléctrico, porque chegava da Califórnia! Os primeiros eram puxados por animais, mas depressa percebeu-se o sucesso que tinham e na vantagem que seria se fossem mais rápidos. Assim na madrugada do dia 31 de Agosto de 1901 começou a funcionar a primeira linha de carros eléctricos que se estendia do Cais do Sodré a Ribamar (Algés).
Em 1905 a rede estava electrificada e os "Americanos" desapareceram das ruas de Lisboa.
Alguns eléctricos continuavam a ser adquiridos nos EUA, mas já muitos eram produzidos nas oficinas da Carris.
O número de redes de eléctricos aumenta até aos anos 70, quando o autocarro ganha primazia e começam a suprimir-se algumas carreiras. Em 1997 são apenas 5, enquanto que no auge dos anos 50 eram 39 carreiras.

Hoje em dia nas ruas de Lisboa vemos 3 tipos de eléctricos: o vermelho e branco - dos mais antigos, utilizado como transporte turístico. Adquire-se o bilhete, recebe-se uns headphones e percorre-se Lisboa ouvindo uma explicação. Esses eléctricos possuem na frente uma rede que caía para acolher as pessoas que iam sendo atropeladas pelo eléctrico! Nos inícios por vezes não se conseguia travar a tempo e as pessoas que tentavam atravessar a correr, eram apanhadas e assim não se magoavam. Essa mesma rede também impedia choques maiores entre eléctricos. O interior é magnífico, de madeira, restaurado, sentimos mesmo que fazemos uma viagem no tempo.
o amarelo e branco - o mais antigo antigo e ainda transporte público. Existem os 700 e os 500 (ou seja, os 500 conduzem apenas numa única direcção, os 700 conseguem ir para a frente ou para trás, são os típicos carros bidirecionais, com potência de 90 cavalos (dois motores de 45 cavalos), travões manuais a ar comprimido, electromagnético e electropneumático, fabricados por Leito Maley & Taunton). É mágico ouvir o vapor do travão, ver o guarda-freio a mudar o cabo ou o carril para mudar de direcção ou para que a antena do eléctrico não bata nas varandas. E mais mágico ainda é quando levantamos o assento do banco da frente e vemos a areia utilizada para ajudar na travagem e assim criar maior aderência ao chão.
e por fim, igualmente amarelo e branco, mas muito mais largo e longo - o 15, que faz a ligação do centro a Belém. A velocidade máxima é de 70 quilómetros por hora, sendo os sistemas de travagem do tipo electrodinâmico, com recuperação de energia; os travões são de disco, estimulados de forma electro-hidráulica, e equipados com sistemas anti-patinagem. Em vez de trólei, utilizado pelos eléctricos tradicionais, este veículo dispõe de um pantógrafo para captar a rede eléctrica.

O eléctrico têm um gerador próprio, assim se faltar a electricidade eles continuam a percorrer as ruas da cidade.

Este é um transporte que existe durante quase as 24 horas do dia. O bilhete adquire-se no próprio eléctrico, mas atenção, se tiver um pré-comprado fica-lhe quase a 1/3 do adquirido in loco.

A Linha mais famosa é a 28, porque percorre praticamente Lisboa completa, passando pela história da cidade: dos Prazeres ao Martim Moniz. Por estar publicitada em todos os roteiros, o 28 enche-se de locais e de turistas e por vezes, infelizmente de carteiristas. Mas se prestar atenção vale muito a pena.
Se quiser saber mais, aconselho a visita ao Museu da Carris.