segunda-feira, 30 de abril de 2012

Saudades de grupos assim

Não sei se os eslovenos são todos assim, mas todos os grupos que tive até hoje dessa nacionalidade são sempre simpáticos, interessados, risonhos, optimistas.
O programa deste grupo incluía a visita da Quinta da Regaleira, o meu monumento preferido em Sintra. Adoro fazer essa visita, adoro o local, adoro a sua história, adoro explicá-lo e adoro conseguir passar a vivência do local para as pessoas, fazê-las sentir a mensagem, o propósito da construção de tudo aquilo. Fiquei de coração cheio quando o senhor mais velho do grupo com a sua bengala quis passar as pedras sobre a água na saída no poço, "após tudo o que nos fizeste sentir e pensar, não posso não passar!". Com a ajuda de todos, sabendo nós os riscos que corríamos, arriscamos. Aqui fica a imagem para a posteridade, ele está no lado direito. 



E na despedida, entre tantas outras pequenas prendas recebi este chocolate com sal, típico da Eslovénia! Não imaginam o cheirinho! (mas ainda não provei)


Espero que durante todo o ano cheguem pessoas como estas!

32 anos de casamento

"Sim estou casada há 32 anos. Quando as pessoas entendem a vida da mesma forma e têm certos objectivos comuns não há motivo para não funcionar. Somos um casal feliz, gostamos muito um do outro e respeitamo-nos, aproveitamos a vida de forma optimista todos os dias. Fico feliz de ver o meu filho a seguir o mesmo caminho com a namorada dele. A não seguir os conselhos do que passam na TV e nas discussões de novas teorias de relações e de independências de ser. Todos querem amar e ser amados terrivelmente por alguém. Porque é que insistem em meter nas cabeças dos jovens que instantâneos é que é bom? Algo que dura é que é bom, não tenho problemas nenhum em ceder em certas coisas. O que se recebe e vive vale tudo." - Eslovénia

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Numa língua em que não entendemos nada

Por vezes trabalhamos com grupos cuja língua não falamos. 
Nestes casos, o grupo traz consigo um tour leader que, entre outras funções, faz a tradução do que nós, guias locais, explicamos. 
Não é das minhas tarefas preferidas porque penso que é mais cansativo para o grupo (demora-se o dobro do tempo nas explicações), mas sobretudo porque não sei se a mensagem que passei ao tour leader é a que está realmente a ser transmitida. No entanto, não há outra forma de o fazer.
Obviamente já tive casos que percebi que estava com profissionais sérios que estariam a traduzir correctamente porque ou pediam para repetir o que expliquei ou pediam para fazer frases pequenas de modo a conseguirem traduzir tudo, mas também porque traduziam para mim os comentários, questões e observações das pessoas do grupo.
Mais problemático é quando sentimos que a tradução não é assim tão fidedigna!
Sei que as línguas têm estruturas de frases e palavras bem diferentes e que por vezes uma palavra em inglês tem duas sílabas mas em alemão tem 4 ou 5 sílabas. Não obstante, confesso que faz-me um pouco de confusão quando explico algo durante 5 minutos mas a sua tradução demora 15, ou vice-versa! (quando o tour leader é especializado em determinada matéria, a tradução poderá ser um pouco mais demorada pois este decide acrescentar informação àquela foi dada por mim, mas nestes casos, o tour leader, por norma, ao apresentar-se informa que assim pretende fazer e com toda a educação pede para não levarmos a mal se estender mais a sua explicação. Melhor ainda é quando tem o cuidado e a atenção de traduzir para o guia a informação que acrescentou. Estamos sempre a aprender, não é?)
Ao falarmos várias línguas acabamos por encontrar similaridades mesmo com línguas que não entendemos, pois a origem é a mesma.
Assim, é estranho quando estamos na Torre de Belém e ouvimos palavras que se assemelham a laranjas... Ou quando estamos no regresso do Cabo da Roca a explicar a Serra de Sintra e ouvimos o nome de cidades como Coimbra e Figueira da Foz... ou temos a oportunidade quase única de encontrar um calceteiro no seu ofício e explicar com todos os instrumentos ali na frente como se faz a calçada portuguesa e percebemos pelos gestos do tour leader e dos risos despregados do grupo e dos olhares marotos que o que foi traduzido foi tudo menos como se constrói a calçada portuguesa! 
Reacção? Olhei, sorri, continuei parada na esperança da tradução, mas recebi como retorno apenas: "sim, sim podes continuar".


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Suspiro sempre que ouço esta pergunta

Não sei se é uma pergunta frequente para os meus colegas também, mas ouço-a constantemente:
"O vosso país está em crise, mas já reparou no parque automóvel? Como é que conseguem pagar estes carros? E os restaurantes e cafés? Noto que estão sempre cheios."

Suspiro, porque para mim esta pergunta contém explicações enormes e muito do que gostaria de mudar no meu país e no mundo.
Talvez um dia.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Aqui nasceu a Amália

Recantos e cantos, pátios e ruelas. Descobrir a alma de Lisboa:

calçada de Santana - Aqui nasceu a Amália Rodrigues!


Jorge Palma

http://www.youtube.com/watch?v=apJ79-Dno9s

Jorge Palma - Acorda Menina Linda


Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda ver que lindo presente
A aurora trouxe para te prendar
Uma coroa de brilhantes para iluminar
O teu cabelo revolto como o mar
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Porque terras de sonho andaste
Que Mundo te recebeu
Que monstro te meteu medo
Que anjo te protegeu
Quem foi o menino que o teu coração prendeu ?
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda a ver o gato vadio
À caça do pássaro cantor
Vem respirar o perfume
Das amendoeiras em flor
Salta da cama
Anda viver, meu amor
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Trocas e Baldrocas

É com certa tristeza que nos últimos meses tenho assistido ao menosprezo desta profissão pela imprensa.
Não percebo porque retratam sempre o Guia-Intérprete como alguém que é aborrecido no discurso, que leva os grupos aos locais mais que esperados, que passeia, como se fossemos algo que incomoda!
Devido à crise têm surgido organizações que se apresentam como alternativa ao Guia, ao turismo de massa, que pretendem apresentar Lisboa por quem lá mora, que abrem as portas de casa, que querem ser amigos do turista. Insisto que a maioria dessas pessoas não sabe contar os factos históricos e que irá certamente inventar coisas para o turista. Insisto que os vejo nos mesmo sítios que eu e os meus colegas. A carrinha que diz "I hate tourism" está sempre nos Pastéis de Belém, na Torre de Belém, no estacionamento de Alfama, vai também ao Cabo da Roca, ... Esbarra com os meus grupos a toda a hora. Por isso sei que ela existe. Ser amigo? eu também sei ser amiga do meu grupo.
Apresentar alternativas? Também conseguimos. Observamos quem temos perante nós e sabemos indicar sítios "secretos" de Lisboa, bares e restaurantes, ciclos de cinema e museus únicos, lojas especializadas, cafés típicos, locais bairristas.
Há poucos dias foi mais um ataque, desta vez por parte de Arqueólogos - que também se apresentam como alternativa aos nossos tours.
Eu, até concordo. O que não concordo é que menosprezem o nosso trabalho. Não concordo que nas entrevistas se brinque com as nossas visitas. Não somos especialistas em arqueologia, mas somos especialistas em turismo, licenciados numa escola superior. Também não somos especialistas em botânica ou em etnografia e essas disciplina fazem parte do nosso trabalho. Será que o arqueólogo irá incluir esses temas na sua visita? Além disso mantemo-nos sempre actualizados, tiramos cursos complementares, a formação é uma constante.  E pergunto-vos: quantas pessoas anseiam por uma visita especializada em arqueologia?
E na verdade quantos colegas meus têm cursos de História, História de Arte, Línguas, Geografia e até mesmo Arqueologia?

O Guia-Intérprete tem na verdade um público alvo, mas adapta-se aos mais variados públicos e situações: de jovens de 14 anos, aos estudiosos nos 40, aos velhinhos que na verdade querem atenção. Passando por todos os outros. Sabemos indicar do mais banal ao mais alternativo.
Maus profissionais há em todo o lado, dias maus todos temos.

O Guia-Intérprete não passeia, mas trabalha, como espero ter vindo a mostrar aqui. Teve uma formação teórica e prática. 

Além disso o Guia-Intérprete não é especificidade de Lisboa. Em Portugal nós somos Guias Nacionais. Por isso, lembrem-se que nem todos os turistas estão só e apenas em Lisboa. E coloco-vos perante esta situação:

Certa vez uma agência ligou-me a marcar uma visita com uma família. Iria buscá-los ao Cais de Alcântara e fariamos o passeio de Arrábida, caves de Azeitão, Setúbal, Sesimbra, Palmela.
No dia marcado eu e o motorista esperavamos a família. Chegaram. Apresentamo-nos, começamos a falar de como seria o dia. Mas eles começaram a mostrar interesse por outros locais, porque amigos no barco de cruzeiro tinham falado muito bem de Sintra. Expliquei o que poderiamos ver em Sintra, as diferenças entre os dois tours. Estavam muito mais entusiasmados com Sintra do que com o outro tour. Após pedidos de autorização à agência de viagens e do transporte mudamos tudo.
E passamos um dia maravilhoso em Sintra e Cascais.

Pergunto: o tal amigo, o alternativo, o especialista numa área seria capaz desta troca? 

Todos temos lugar. Não precisamos é dizer que somos algo que não somos e nem criticar de forma gratuita o trabalho dos outros. 
E se nós fossemos tudo aquilo que dizem, não seriamos classificados como sendo dos melhores Guias da Europa e não teriamos as pessoas felizes, a chorar com pena de partirem, a levarem uma melhor imagem de Portugal do que aquela que tinham quando chegaram e a enviar-nos postais de Natal tantos anos depois de terem estado cá connosco.
Apenas respeito uns pelos outros. Isso é viver em sociedade.



segunda-feira, 9 de abril de 2012

O H em alemão

Pronunciar o H em alemão é essencial. Enquanto que em português ele é mudo, em alemão ele é muito bem expirado! E sobretudo essencial.

Certa vez, ainda no primeiro ano de trabalho, estava com um grupo a caminho das docas para um jantar. Ao aproximarmo-nos comecei a explicar o porto de Lisboa.
A palavra alemã para - porto- é Hafen. E lá ía eu dizendo - O Hafen de Lisboa isto e o Hafen de Lisboa aquilo... 
Chegamos, saímos do autocarro e uma das senhoras do grupo perguntou-me: "Mas onde está o Hafen de Lisboa?" E eu achei a pergunta um tanto sem sentido. Como assim o porto de Lisboa? Estamos aqui no porto de Lisboa! E eu apontava à volta e ela continuava com um certo ar baralhado.
Após um minuto desta conversa meia de loucos, disse ela: "Ah o HHHHHHafen!!!"

Se não tivermos sempre em mente a regra da pronúncia do H, um português pode facilmente pronunciar a palavra Hafen com o som Afen, como se não estivesse ali um H.

Ora, Affen... significa em alemão... Macaco!