segunda-feira, 23 de abril de 2012

Numa língua em que não entendemos nada

Por vezes trabalhamos com grupos cuja língua não falamos. 
Nestes casos, o grupo traz consigo um tour leader que, entre outras funções, faz a tradução do que nós, guias locais, explicamos. 
Não é das minhas tarefas preferidas porque penso que é mais cansativo para o grupo (demora-se o dobro do tempo nas explicações), mas sobretudo porque não sei se a mensagem que passei ao tour leader é a que está realmente a ser transmitida. No entanto, não há outra forma de o fazer.
Obviamente já tive casos que percebi que estava com profissionais sérios que estariam a traduzir correctamente porque ou pediam para repetir o que expliquei ou pediam para fazer frases pequenas de modo a conseguirem traduzir tudo, mas também porque traduziam para mim os comentários, questões e observações das pessoas do grupo.
Mais problemático é quando sentimos que a tradução não é assim tão fidedigna!
Sei que as línguas têm estruturas de frases e palavras bem diferentes e que por vezes uma palavra em inglês tem duas sílabas mas em alemão tem 4 ou 5 sílabas. Não obstante, confesso que faz-me um pouco de confusão quando explico algo durante 5 minutos mas a sua tradução demora 15, ou vice-versa! (quando o tour leader é especializado em determinada matéria, a tradução poderá ser um pouco mais demorada pois este decide acrescentar informação àquela foi dada por mim, mas nestes casos, o tour leader, por norma, ao apresentar-se informa que assim pretende fazer e com toda a educação pede para não levarmos a mal se estender mais a sua explicação. Melhor ainda é quando tem o cuidado e a atenção de traduzir para o guia a informação que acrescentou. Estamos sempre a aprender, não é?)
Ao falarmos várias línguas acabamos por encontrar similaridades mesmo com línguas que não entendemos, pois a origem é a mesma.
Assim, é estranho quando estamos na Torre de Belém e ouvimos palavras que se assemelham a laranjas... Ou quando estamos no regresso do Cabo da Roca a explicar a Serra de Sintra e ouvimos o nome de cidades como Coimbra e Figueira da Foz... ou temos a oportunidade quase única de encontrar um calceteiro no seu ofício e explicar com todos os instrumentos ali na frente como se faz a calçada portuguesa e percebemos pelos gestos do tour leader e dos risos despregados do grupo e dos olhares marotos que o que foi traduzido foi tudo menos como se constrói a calçada portuguesa! 
Reacção? Olhei, sorri, continuei parada na esperança da tradução, mas recebi como retorno apenas: "sim, sim podes continuar".


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