quarta-feira, 11 de abril de 2012

Trocas e Baldrocas

É com certa tristeza que nos últimos meses tenho assistido ao menosprezo desta profissão pela imprensa.
Não percebo porque retratam sempre o Guia-Intérprete como alguém que é aborrecido no discurso, que leva os grupos aos locais mais que esperados, que passeia, como se fossemos algo que incomoda!
Devido à crise têm surgido organizações que se apresentam como alternativa ao Guia, ao turismo de massa, que pretendem apresentar Lisboa por quem lá mora, que abrem as portas de casa, que querem ser amigos do turista. Insisto que a maioria dessas pessoas não sabe contar os factos históricos e que irá certamente inventar coisas para o turista. Insisto que os vejo nos mesmo sítios que eu e os meus colegas. A carrinha que diz "I hate tourism" está sempre nos Pastéis de Belém, na Torre de Belém, no estacionamento de Alfama, vai também ao Cabo da Roca, ... Esbarra com os meus grupos a toda a hora. Por isso sei que ela existe. Ser amigo? eu também sei ser amiga do meu grupo.
Apresentar alternativas? Também conseguimos. Observamos quem temos perante nós e sabemos indicar sítios "secretos" de Lisboa, bares e restaurantes, ciclos de cinema e museus únicos, lojas especializadas, cafés típicos, locais bairristas.
Há poucos dias foi mais um ataque, desta vez por parte de Arqueólogos - que também se apresentam como alternativa aos nossos tours.
Eu, até concordo. O que não concordo é que menosprezem o nosso trabalho. Não concordo que nas entrevistas se brinque com as nossas visitas. Não somos especialistas em arqueologia, mas somos especialistas em turismo, licenciados numa escola superior. Também não somos especialistas em botânica ou em etnografia e essas disciplina fazem parte do nosso trabalho. Será que o arqueólogo irá incluir esses temas na sua visita? Além disso mantemo-nos sempre actualizados, tiramos cursos complementares, a formação é uma constante.  E pergunto-vos: quantas pessoas anseiam por uma visita especializada em arqueologia?
E na verdade quantos colegas meus têm cursos de História, História de Arte, Línguas, Geografia e até mesmo Arqueologia?

O Guia-Intérprete tem na verdade um público alvo, mas adapta-se aos mais variados públicos e situações: de jovens de 14 anos, aos estudiosos nos 40, aos velhinhos que na verdade querem atenção. Passando por todos os outros. Sabemos indicar do mais banal ao mais alternativo.
Maus profissionais há em todo o lado, dias maus todos temos.

O Guia-Intérprete não passeia, mas trabalha, como espero ter vindo a mostrar aqui. Teve uma formação teórica e prática. 

Além disso o Guia-Intérprete não é especificidade de Lisboa. Em Portugal nós somos Guias Nacionais. Por isso, lembrem-se que nem todos os turistas estão só e apenas em Lisboa. E coloco-vos perante esta situação:

Certa vez uma agência ligou-me a marcar uma visita com uma família. Iria buscá-los ao Cais de Alcântara e fariamos o passeio de Arrábida, caves de Azeitão, Setúbal, Sesimbra, Palmela.
No dia marcado eu e o motorista esperavamos a família. Chegaram. Apresentamo-nos, começamos a falar de como seria o dia. Mas eles começaram a mostrar interesse por outros locais, porque amigos no barco de cruzeiro tinham falado muito bem de Sintra. Expliquei o que poderiamos ver em Sintra, as diferenças entre os dois tours. Estavam muito mais entusiasmados com Sintra do que com o outro tour. Após pedidos de autorização à agência de viagens e do transporte mudamos tudo.
E passamos um dia maravilhoso em Sintra e Cascais.

Pergunto: o tal amigo, o alternativo, o especialista numa área seria capaz desta troca? 

Todos temos lugar. Não precisamos é dizer que somos algo que não somos e nem criticar de forma gratuita o trabalho dos outros. 
E se nós fossemos tudo aquilo que dizem, não seriamos classificados como sendo dos melhores Guias da Europa e não teriamos as pessoas felizes, a chorar com pena de partirem, a levarem uma melhor imagem de Portugal do que aquela que tinham quando chegaram e a enviar-nos postais de Natal tantos anos depois de terem estado cá connosco.
Apenas respeito uns pelos outros. Isso é viver em sociedade.



1 comentário:

  1. É isso mesmo tudo o que escreveste ´descreve mesmo o nosso empenho profissional e o amor ao nosso país. Somos embaixadores e muitas vezes tentamos transmitir tudo o que de belo e bom o nosso país tem. Muito obrigada pelo excelente artigo.

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