segunda-feira, 17 de outubro de 2016

História da Ana Paula Xisto - os Guias são comuns mortais

Quando um Guia vai trabalhar, sabe que durante aquelas horas mais ninguém existe no Mundo a não ser o seu grupo, são os turistas, a agência, os fornecedores que dependem de como correm essas horas de trabalho que esperam que o Guia não pense em mais nada a não ser nesse seu grupo.
Assim paira sempre no ar o peso de tudo correr no mais próximo da perfeição!
Muitas vezes temos a sensação que o Guia não pode cair, não pode tropeçar, não pode enganar-se numa palavra, não pode ficar com algo verde entre os dentes, não pode não saber um caminho, nem esquecer uma data! Ainda menos atender o telemóvel. Porque... terá o guia outra vida para além daquele momento com eles?
Sim, a vida pessoal do Guia é um grande mistério! Como se prepara ele? Com quem está antes do grupo chegar? Como reage a família e amigos a tudo isto?

A Ana Paula Xisto conta-nos como foi o dia em que se descobriu que ao Guia também acontecem "estas coisas", só que acontece é sempre perante uma plateia!
Ai como o Guia precisa relativizar tudo na vida, rir de si próprio e ser forte perante tanto olhar!

"Fui ao Palácio da Pena e quando estava a sair do palácio, tirei o telemóvel do bolso esquerdo de trás das calças, para ver as horas e dar tempo livre para fotos e casas de banho, quando me apercebo q tinha um buraquinho por baixo do bolso! Apalpei outra vez para ver o tamanho do rasgão, mas era pequeno e não me preocupei.
Ao chegarmos à Boca do Inferno saí com o telemóvel na mão, mas este caiu no chão e eu baixei-me para apanhá-lo, nesse momento só ouvi "rrrrrrrrr", logo atrás de mim vinha um casal e consegui ouvi o que o senhor dizia para a mulher: "ah regarder les pantalons de notre guide" ... Comecei a rir à gargalhada e não conseguia parar, eles também, a motorista (a quem eu já tinha perguntado se se notava muito), também se ria às gargalhadas, e assim num ápice o grupo ficou todo curioso com o que se passava e porque riamos tanto!
Pensei: tenho que arranjar um modo de tornar isto engraçado, e disse-lhes que tinham uma guia sexy e mostrei-lhes ... começaram todos a rir ... a dizer que é a moda de agora, eu dizia q sim e que como estavamos em Cascais eu queria estar na moda ... enfim foi uma risota até Lisboa!
Quando nos despedimos pedi muita desculpa, mas não me iria levantar para me despedir deles e claro continuou a risota. A mulher do francês só dizia q tinha sido o melhor e mais divertido dia!"


Lentamente

Lentamente a época de trabalho começa a chegar ao fim.

É bom saber que vou poder fazer um intervalo, recuperar as energias e descansar a mente de tantas solicitações.
Cuidar de pessoas, estranhos, com todo o carinho, proporcionar-lhes um dia feliz nas suas ansiadas férias exige muito.

Lentamente as horas são menos ao longo dos dias, e aqui e ali, surge um dia livre.

Lentamente recuperamos o tempo com as nossas pessoas.

Lentamente podemos abrir outros livros que não sobre trabalho, ver filmes, ouvir álbuns inteiros.

É bom já ver no horizonte aqueles dias em que dormirei até mais tarde e não terei de ir ao aeroporto às 04h00.

É bom saber que no frio, estarei eu no quente da casa. A viver os meus.

É bom saber que este intervalo fará com que o começo da nova época seja também ele depois tão apetitoso.

Eu gosto do que faço. Agora estou mais cansadinha, mas venham daí, porque é tão bom mostrar-vos o Portugal que eu gosto.

Ontem a noite deu para ir até aqui, a uma sala que adoro, a uma Lisboa que para mim é bonita, a uma tela de cinema!




O Jardim da Estrela

O Jardim da Estrela é uma jóia no centro de um dos mais bonitos bairros residenciais lisboetas.
Quando aqui passo, vem-me à imaginação as famílias do século XIX a passearem por aí. 

Os turistas reagem sempre com um "ah que bonito". Imagino que sentem que também eles ali poderiam viver.

Nesta altura do ano a Sumauma encanta todos com o seu rosa!

Passem por lá, num fim de dia de trabalho.


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Depois de 34 dias sem parar...

... ficamos assim!

Lembrar o Mundo

Este monumento presta homenagem a todos os soldados mortos durante a Guerra Colonial.

É importante olhá-los, relembra o passado e o futuro que podemos construir de forma tão diferente, tão melhor.

Um dia seremos um Mundo sem Guerras, não seremos?

A Ginjinha

A Ginjinha, o licor que aquece as noites outonais e invernais de Lisboa!




500 anos de vida

A Torre de Belém tem mais de 500 anos de Vida!

Esta Torre já esteve no meio do rio, esta Torre defendeu a cidade, esta Torre serviu de prisão, esta Torre é o grande símbolo de Lisboa!







domingo, 2 de outubro de 2016

Coisas do coração

Era o ano de 2004 e eu estava praticamente a começar a trabalhar como Guia Intérprete Nacional.
Mal sabia eu a emoção, a aprendizagem, a alegria e o "desenrascanço" que estava para viver (e que espero viver por muitos e longos anos)!

Nesse ano recebo uma chamada de uma agência a perguntar-me se não queria fazer uns quantos circuitos por Portugal com grupos alemães. Iriamos de Lisboa até ao Douro e depois o inverso. Durante alguns meses.

O coração bateu depressa: seria eu capaz? Eu ainda nem conhecia as estradas, as paragens, além de questionar-me se teria um nível de alemão suficiente para tais grupos!
Do outro lado da linha disseram-me que o programa não era complicado e que não estaria só. Era uma operação que incluía cerca de 8 grupos por semana, portanto estaria apoiada por outros colegas, metade deles tão novinhos quanto eu e a outra metade colegas mais experientes que iriam mesmo ajudar-nos.
A voz era entusiasmante, alegre e cheia de força.
Arrisquei.

2016 e ainda olho para essa aventura com muito carinho.

Aprendi muito, mas muito.
Essa agência tratou-nos com todo o carinho, mesmo! As pessoas responsáveis pela operação têm um respeito enorme pelo trabalho do Guia e entendem verdadeiramente o que passamos. Mas verdadeiramente, como é muito raro encontrar.
Aprendi muito com elas, com os motoristas e com os colegas. A Anabela, o Paulo não mais sairão do meu coração. São aqueles professores que levamos com carinho!

O melhor de tudo é que as pessoas em quem apostaram, esses guias mais novinhos a quem elas deram oportunidade de começar, estão ainda todos a trabalhar.

2016 e continuo a trabalhar com essa agência.

Ontem foi um dia complicado em Lisboa. Duas maratonas trocaram as voltas à cidade toda.
Mas é como digo sempre, se formos com um sorriso largo, se formos a pensar que não há nada mais que possamos fazer a não ser dar o nosso melhor e fazer entender o visitante que este é um dia especial, diferente, que a cidade também pertence a quem aí habita e que a única solução é ter paciência e pensar que o sol brilha, que eles estão de férias e que a cidade é linda, tudo acontecerá melhor!
Deu trabalho, muito, mas no fim o grupo agradeceu, muito e disse que Lisboa ainda era a sua cidade favorita!

Aqui fica para sempre o bom que é quando sorrimos, quando colocamos pensamentos positivos, boas energias e calma para tudo resolver.

Aqui fica uma dessas meninas que também andou no tal grupo em 2004.
Aqui ficam os sorrisos e os rostos das tais vozes ao telefone em 2004.
Odete e Sandra obrigada, acreditem que o vosso empurrão foi essencial para o meu percurso.


Azul

Hoje o lenço foi azul!

Hoje a equipa de trabalho foi este sorriso!

Hoje passamos pela montanha, pelo mar, hoje ultrapassamos obstáculos juntas, hoje proporcionamos momentos que estas pessoas não vão esquecer!

E hoje descobri também eu algo novo: os azulejos de Nadir Afonso no túnel de passagem para a praia!



Das coisas boas desta profissão

Uma das coisas boas desta profissão é a oportunidade que tenho em conhecer pessoas bonitas, pessoas boas, pessoas que quero guardar para a Vida.

Em 2012 trabalhei durante um mês para o Campeonato Europeu de Futebol que teve lugar na Polónia e na Ucrânia. Fiquei o mês inteiro na Ucrânia.
Foi um mês de revelações, de entendimento de uma outra mentalidade, de uma outra história, povo, vidas, foi o entender de muitos porquês e quês.
Adorei.

Nesse mês tive a sorte de trabalhar com um grupo de pessoas muito generosas, com quem falo ainda hoje, e com quem espero falar para sempre.

Na semana passada, uma dessas pessoas veio até Lisboa. Apesar do meu cansaço e de uma grande parte de mim querer apenas dormir, não o podia fazer. Levantei-me, calcei as botas e lá fui eu abraçar a Dasha. Foi tão bom ver o seu sorriso, foi tão bom conhecer o namorado, ouvir da Vida dela, recordar o passado.

Foi bom.





Mas onde está o Castelo?

Não sei bem porquê, mas nos últimos 3 anos tem surgido uma dúvida comum a várias nacionalidades e idades: "mas onde está o Castelo?".

Na maioria dos países europeus os Castelo são edifícios grandes, majestosos, com algumas salas para visitar.
Quando chegamos ao Castelo de São Jorge, percorremos a praça, vamos junto à muralha, falamos da vista, damos a volta, entramos no Castelejo e depois damos tempo para fotografarem ao ritmo de cada um, tem surgido a pergunta: "mas onde está o Castelo?".

Nas primeiras vezes fiquei incrédula. Como assim? Onde está? Depois pensei que era algo vindo de uma nacionalidade específica, mas não!

O meu discurso sobre castelos mudou. Agora começo sempre por explicar o que é um castelo e como são em Portugal. Por norma, a dúvida já não surge mais!

Mas... curioso não?

Boa noite Lisboa