quarta-feira, 26 de setembro de 2012

De borla?????

Após a hora do almoço quatro pessoas do meu grupo (brasileiros) vieram contar-me a aventura do almoço.

Entraram num restaurante, sentaram e como é habitual em Portugal foi colocado na mesa o pão, azeitonas, manteiga e queijo na mesa.
Um dos senhores decidiu pegar numa fatia do queijo e experimentar. O empregado que ía a passar disse-lhes num tom bem simpático: 
" - Comam, comam que é de borla!"
E eles comeram, o primeiro pratinho e até pediram para vir mais dois.
O almoço seguiu-se com toda a normalidade.
No final pediram a conta. Ao verificarem todos os itens repararam que o queijo estava afinal a ser cobrado!
Chamaram o empregado e perguntaram porque estava o queijo incluído na conta e o senhor respondeu porque o tinham comido.
"Mas o senhor disse que era de borla?!" - comentaram eles.
"Não, senhores, eu disse que era de Borba! Queijo de Borba que é muito bom!".

ahahahahahahahahahah

passado tantos anos ainda rio imenso quando lembro desta história!


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Razões que a própria razão desconhece

Terminado o tour estavamos de regresso ao hotel.
Fiz as minhas despedidas, paramos o autocarro, abrimos a porta e saí esperando à porta que todos saíssem dizendo obrigada e adeus à saída de cada pessoa.
Curiosamente um senhor ficou sentado no banco da frente.
Olhei para o motorista a questionar com os olhos porque seria!
Olhei para o senhor e perguntei: "Precisa de alguma coisa?"
Ele respondeu: "É para sair?"
Respondi-lhe: " Não é este o seu hotel?" (cheguei a pensar que teria vindo connosco alguém que não pertencia ao tour!)
Disse-me que sim que era e voltou a repetir: "Tenho que sair aqui?"
"O tour terminou e o hotel é a nossa última paragem, precisa de alguma ajuda?", disse-lhe.

O senhor suspirou, levantou-se, desceu os degraus e agradeceu.

O que pretenderia ele?

Nesta vida ficamos com tantas dúvidas no ar!!!!

Dar tudo que por vezes não temos

Penso que há 3 momentos muito difíceis na vida de um Guia-Intérprete:

1 - lidar com um acidente ou problema de saúde de um cliente, incluindo a morte

2 - estar doente 

3 - estar profundamente triste

Nestes últimos dois casos não conseguir arranjar um colega para nos substituir tira do nosso corpo e mente toda a energia que já não temos. Fazer um tour cheio de dores no corpo, com a cabeça a latejar, tentar caminhar, tentar falar e respirar é algo quase impensável, mas sem sabermos como, aquele último pedacinho de energia vem ao de cima e leva-nos ao trabalho. Tenta-se encontrar artefactos para parecer estar bem: vestir colorido, colocar maquilhagem e sorrir.

Porque o grupo espera um dia feliz e inesquecível, porque as pessoas estão de férias e querem sorrir e esquecer os problemas delas.
E nós conseguimos isso.

E ao longo do tour, se amamos realmente esta profissão, também encontramos alento e aos poucos vamos sorrindo mais sinceramente e até parece que vamos curando.
No fim, quando nos agradecem, quando sorriem, quando se despedem a prometer enviar fotos e a desejar-nos o melhor na vida, sentimos que valeu todo o esforço.

Mas assim que o corpo chega a casa, dorme, porque deu tudo aquilo que já não tinha.

domingo, 16 de setembro de 2012

Distâncias e toques

Ao sair do autocarro e começar as explicações in loco é curioso notar o comportamento do grupo: a forma como se dispõe à volta do guia, a distância que guarda, os que ficam na frente, os que ficam mais para trás.
Mais interessante ainda é notar a repetição de comportamento de acordo com as diferentes nacionalidades.

Os ingleses espalham-se o mais possível guardando longas distâncias entre si e mesmo com o guia, uma espécie de espaço vital que não deve ser invadido. Ao ser-lhes pedido para se aproximarem mais de modo a que dêem espaço a outros grupos e visitantes e também para que ouçam melhor, eles avançam literalmente um milímetro. Fazem um pequeno movimento com o pé, balanceiam o corpo, mas na verdade nem um passo foi dado. Eu, por norma, volto a insistir, sorrindo. O milimétrico passo é dado mas com expressões extremamente sérias. Se não tenho grupos à volta acabo por ceder, mas quando há mais visitantes insisto, pois acho que é rude ocuparmos um espaço todo desnecessariamente e ao qual todos têm direito (não só fisicamente como em audição... é que gritar explicações é mau para a voz e para os ouvidos de todas as pessoas naquele espaço). "Não tenham medo, não vos vou bater" digo-lhes sorrindo e eles subitamente desarmam, riem e dão o passo!

Os franceses são um misto. Os Parisienses guardam uma distância de segurança, fazem pequenos grupos dentro do grupo e sussurram imenso o tempo todo. Já os da Bretanha ou do Sul desenham um círculo à volta do guia e é difícil convencê-los que se ficarem todos na frente do guia será mais fácil e mais proveitoso, pois a projecção de voz será igual para todos. Lá voltam os gestos, a linguagem corporal a tentar desenhar uma linha na minha frente, mas nem sempre sou bem sucedida. E lá vou eu rodopiando e girando a explicar o monumento/local.

Os alemães são talvez os mais cientes de ocupação de espaço, colocam-se na frente do guia, com um espaço saudável entre os dois lados e entre si. 

Todas estas nacionalidades cumprimentam sempre com um aperto de mão e quando interpelam o guia é normalmente pelo título Sr/Srª (excepto os tais da Bretanha que memorizam o nome e gentilmente dizem Catiá, com aquela entoação no -a final que tanto me faz sorrir e querem todos dar beijinhos)

Raramente trabalho com grupos espanhóis ou italianos porque não falo a língua deles, mas quando a língua oficial é o inglês tenho o prazer de trabalhar com estas nacionalidade. Parece um outro mundo, tão diferente das nacionalidade já mencionadas. Falam o tempo todo, gesticulam imenso e quando chega o momento de formar o grupo no exterior querem todos ficar na fila da frente o mais colado ao nariz possível do guia. Acotovelam-se, pedem sempre para o guia falar mais alto (por mais alto que seja parece nunca ser o suficiente) e constantemente tocam o guia. O nosso nome, memorizam sempre. Lembro da primeira vez que trabalhei com italianos, ao estar habituada às cordialidades nórdicas, quando ouvi o meu nome procurei por uma pessoa conhecida. Pensei mesmo que seria um conhecido que passava ali perto e estranhei quando percebi ter sido do meu grupo. A primeira reacção foi pensar como é que aquela pessoa sabia o meu nome, praticamente tendo-me esquecido que me tinha apresentado no início do tour! Estão sempre prontos a dar abraços e beijinhos e a interpelar puxando por um braço!

Da minha experiência com chineses e indianos noto que não há a mínima vontade de ouvirem uma explicação. Colocam o pé fora do autocarro e cada um quer ir para o seu lado, seguir o seu caminho e voltar na verdade quando lhe aprouver. 
Mas comportamentos asiáticos dará todo um outro capítulo.

Balancear a vivência com todos eles é o melhor, porque por vezes apetece aquela "frieza" nórdica e tantas outras o "calor" mediterrânico.

... mas claro, não devemos generalizar...

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Beber das palavras

"... vossa excelência sabe que na Idade Média os carrascos utilizavam máscaras para não serem mais tarde reconhecidos e para ninguém se vingar deles? E sabe que nos tempos que correm os carrascos já não precisam de usar máscaras e recebem ainda um ordenado fixo do Estado?" 

"o meu pai trabalhava num notário (...) o meu pai não tinha tempo para estar comigo e não tinha tempo para reler os contratos que era obrigado a redigir. o meu pai aproveitava os momentos antes de eu dormir para me ler alto os contratos e assim verificar erros, e eu cresci a pensar que as histórias infantis tinham sempre dois lados, o lado da direita e o da esquerda, dois outorgantes, e que um só dava uma coisa em troca de outra. só mais tarde percebi que isto acontecia mesmo na vida real - o dá e recebe - e só nos livros infantis é que se dava algo sem querer receber nada em troca" 

"O senhor Henri disse: o telefone foi inventado para as pessoas poderem falar afastadas umas das outras.
... o telefone foi inventado para afastar umas pessoas das outras.
... é exactamente como o avião.
... o avião foi inventado para as pessoas viverem afastadas umas das outras.
... se não existissem aviões nem telefones as pessoas viviam todas juntas.
... isto é uma teoria, mas pensem bem na teoria.
... o que é preciso é pensar no momento em que ninguém espera.
... é assim que os surpreendemos."

- Gonçalo M. Tavares, O Senhor Henri

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Focar atenções


35ºC no exterior.
Tour: panorâmica da Costa do Estoril
Bus: SEM ar condicionado
50ºC devia ser a temperatura no interior.

nem sei como consegui que 19 pessoas me ouvissem, rissem e fizessem perguntas. Dei o que tinha e não tinha para que não pensassem no incrível calor que se sentia e aproveitassem o tour oferecido! Para que conseguissem aprender algo e apreciassem a paisagem magnífica.
Ao pararmos traziamos a roupa colada ao corpo e o highlight do tour foi a ida imediata à Santini (19 gelados de morango foram à conta do meu grupo).

Respiramos de alívio quando ao regressar vimos um bus novo!

Eu bem disse que o Verão seria em Setembro!



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Enciclopédia

Nesta profissão temos mesmo que saber de tudo, em 4 dias com o mesmo grupo tive perguntas desde:
 - quanto custa um saco de milho?

até

- quando é que o casamento monogâmico ficou oficial?


Surpresas!

Onde será que fica esta rua com tanques de lavar roupa ao lado de cada porta de casa?


As maravilhas que se descobrem a pé!