terça-feira, 30 de abril de 2013

A prática tende a ser mais correcta que a teoria

Lembrei-me daquele programa em que o patrão veste a pele do empregado, e durante uns dias experimenta como é o dia a dia do seu trabalhador.
No final da experiência ele percebe que experenciar o que é a sua empresa ou o seu produto, poderá trazer-lhe mais benefícios e melhoramentos. Percebe que por vezes há situações e coisas que correm mal ou que geram descontentamento, porque não ouviu, nem deu importância a quem está in loco, a quem coloca as mãos na massa.

Ter um grupo cujo tour leader é alguém que, além de não conhecer o destino para onde mandou o seu grupo, não quer ouvir a opinião das pessoas que trabalham na agência local, e que acha que toda a teoria de um escritório estrangeiro é que tem razão de ser... torna-se um pesadelo, mesmo sendo as pessoas do grupo (e na verdade as que importam satisfazer) tão simpáticas.
Alguém que pensa que um tour de autocarro faz-se à velocidade de um carro, começa logo mal. Alguém que acha que 40 pessoas movem-se à mesma velocidade de uma, continua mal. Alguém que acha que sabe as horas de trânsito de um país onde nunca esteve e as condições das estradas, continua mal. Alguém que não entende que o tempo de serviço de um jantar ou almoço em Portugal não é igual ao dos hábitos americanos e não quer entender, só piora. Alguém que exige que apressemos o cliente é porque realmente não percebe o que o seu próprio cliente precisa!
Alguém que telefona 20 vezes num espaço de 8 horas de trabalho é porque não confia na verdade no que fez!
Mas o maior erro é não perceber que tem uma equipa que consegue tornar possível o programa impossível que criou e que consegue fazer com que os seus clientes sintam leveza, alegria e interesse durante todo o tour.
Viver 4 dias sob a pressão de um tour leader assim e conseguir disfarçar e não passar para o grupo é... terminar sem energia no corpo.

Se vale a pena?

Vale, porque no fim, o que importa é que o grupo foi feliz. O grupo levou uma imagem boa de Portugal e dos profissionais portugueses e nem percebeu  o organizador péssimo que contratou!
Vale, porque no fim recebi algo assim:


Sentir que as pessoas importam-se ao ponto de procurarem um cartão para me oferecer, é a energia que precisava no fim deste grupo.

Gostava tanto que todas as pessoas envolvidas em organizações de programas turísticos experimentassem fazer os tours que criam e entendessem o que realmente um turista precisa quando está a passear!

A teoria em turismo é das coisas que menos valor tem...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pérolas esquecidas de Portugal - "Lisboa: cidade triste e alegre"

Em 1959 foi editado um livro entitulado - "Lisboa: cidade triste e alegre".

Nos anos 1950 dá-se o movimento neo-realista em Portugal e os artistas desejam representar a realidade vivida no País nessa altura. Esta não era uma tarefa fácil, tendo em conta que Portugal vivia sob um regime ditatorial que não deixava passar imagens menos brilhantes do país.
Os arquitectos Victor Palla e Costa Martins arriscaram. Não querendo fazer um livro redutor da cidade de Lisboa, em que se mostraria apenas o brilho falso da cidade e os monumentos sem pessoas, decidiram misturar-se com a população e retratá-la.
O livro nada tem de arquitectura, o livro é a essência da vida da cidade de Lisboa nessa época.
Estes dois homens passaram semanas e meses com a população, nas tascas, nos lavadouros, nas ruas sobretudo de Alfama e do Bairro Alto. Todas as pessoas fotografadas deram o seu consentimento. Registaram-se 6000 fotos - documentário precioso do que era a alma lisboeta!
Para acompanhar as imagens, os autores pediram a escritores portugueses que escrevessem poemas para elas. Desta vez é o texto que ilustra a imagem e não o contrário.
De início o livro foi editado em fascículos juntamente com uma revista, mas depois acabou por ser censurado e durante anos foi um trabalho esquecido.
É apenas após o 25 de Abril que se esbarra nesta preciosidade e que o público entende a importância de tal registo.
Felizmente um grupo de artistas e fotógrafos uniu-se e fez tudo ao seu alcance para conseguir reunir o máximo de fotos possíveis e os exemplares ainda existente. Juntaram tudo e fizeram uma nova edição do livro.

Actualmente está esgotado e em leilão parece que vale já umas centenas de euros.

O que gostaria de acrescentar é que se este livro tivesse sido feito por fotógrafos franceses ou americanos, seria hoje uma referência mundial ao nível de Bresson ou Erwitt.

Que tal ajudarmos a valorizar o que temos de bom?

Espero que alguma editora acorde e passo a passo veja a preciosidade que tem nas mãos!











terça-feira, 23 de abril de 2013

Lisboa Story Center

Aconselho vivamente.

O preço pode ser um pouco elevado para os portugueses, mas está tão bem organizado e é tão apelativo.
Aprende-se imenso de uma forma fácil e divertida.
A todos que ainda não conhecem a história de Lisboa, visitem.

Fica aqui um teaser

A Passarola

Lisboa Story Center, no Terreiro do Paço.

Ler o programa

Nunca entendi porque compra uma pessoa um tour sem ler o que está no programa.
Quando chega e repara que afinal não vai onde queria mesmo ir ou que o programa não inclui tempo livre e o que queria mesmo era fazer compras, fica extremamente furioso e zangado sem razão.
Sugestão: ler o programa do tour e, se for de encontro ao que deseja, adquirir!

Nos primeiros anos de trabalho eu ficava muito nervosa quando estas situações aconteciam, depois aprendi que o erro não é meu, nem da agência que organizou o tour.  O erro é simplesmente da pessoa que comprou o tour e não leu. Há tantos tours diferentes, certamente um adapta-se ao que procura, basta ler.
A forma de me proteger de comentários rancorosos que exigem uma solução imediata como se eu estivesse a fazer algo é:
- tal como diz no vosso programa agora vamos visitar isto ou aquilo, ou agora temos tempo livre!

É a frase chave! A palavra mágica, porque assim percebem logo que a falha partiu deles.

A semana passada tive mais um exemplo de uma situação assim. Chegados ao momento da pausa para café anunciei que tal como estava no programa iriamos parar 20 minutos para tempo livre.
Reacção imediata de um grupo de 4 pessoas: gritos histéricos a dizer NÃO!!! (acreditem que não estou a exagerar, eu dei um salto no meu banco e o motorista que não percebia alemão perguntou-me logo o que é que eu tinha dito para que houvessem estes gritos!)
Como a reacção foi tão imediata perguntei ao grupo se ninguém queria parar para o tempo livre (obviamente não vou obrigar um grupo inteiro a fazer algo que não quer), mas o resto do grupo disse SIM!!!
Informei que havendo pessoas que queriam e estando no programa, teria que fazer a pausa.
As 4 pessoas vieram com cara muito zangada dizer que tal paragem não se admitia, que iriam de táxi de volta ao navio pois o que eu estava a fazer iria atrasar a chegada deles a outro tour que tinham à noite.
Eu, muito calmamente, fui buscar o programa e mostrei aos senhores os horários do tour, de cada paragem e a hora de chegada ao navio. Acrescentei onde era a paragem do táxi.

Reacção: silêncio, um aceno de cabeça e foram embora.

Por favor, quando viajarem se comprarem tours, leiam os programas!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Condição física

Nestas últimas semanas só me consigo lembrar do meu professor de Prática Profissional a dizer:

"um Guia tem que estar em forma, tem que ter óptima condição física, porque precisa de ter corpo e mente sãos. São horas a andar, dias a andar, em que precisa mostrar energia o tempo todo e a mente a acompanhar. Por vezes são dias com mínimas horas de sono."

O que eu tenho subido e descido e andado e sei lá mais o quê.

Hoje já cantava:


ehehehe

lufa lufa

Um tour em duas línguas com nacionalidades que não se complementam.
A maioria dos turistas são velhinhos.
Uma hora e meia do programa é a pé.
Percorrer ruas labirínticas, atravessar estradas, caminhar no centro, ruas cheias de pessoas com 42 atrás de mim.
Alguém atrasa-se. Ser obrigada por norma da agência a esperar 15 minutos, procurar a senhora no centro de uma cidade - em vão. Ter a outra metade germânica a exigir ir embora porque a culpa é de quem não está, pura e simplesmente.
Auriculares que não funcionam e troca-se e troca-se.
Perceber quem é a senhora que falta, perceber que deixou a mala no autocarro, perceber que é diabética.
Enquanto caminho com o grupo a ter em mente tudo o que o tour ainda inclui, a gerir explicações e atenções individuais, ligar à agência, à polícia e hospitais a ver se se sabe da senhora.
Pessoas que no meio disto não entendem prioridades, nem acham que uma senhora diabética perdida num país que não conhece merece um pouco mais de atenção que uns minutos perdidos num tour de Lisboa (minutos esses que são depois compensados).
Conseguir.
A senhora é encontrada.
O tour é feito.
As pessoas saem a sorrir, com muitos obrigados e felicidades.

lufa lufa

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Atelier-Museu Júlio Pomar

Uma casa linda no coração de Lisboa.
Obras que encantam.
Entrada gratuita.

O que querem mais?

mesmo a chegar...

 lá...


segunda-feira, 15 de abril de 2013

O rossio na betesga

Missão cumprida é quando conseguimos que o grupo esteja super feliz e contente após um programa que significa "meter o rossio na betesga".
Eu sei que esses programas acontecem com as melhores das intenções, mas exigem dos guias um jogo de cintura incrível. Pois temos que mostrar tudo sem lhes dar a noção de correria e impossibilidade. Encontrar ainda momentos para casas de banho e café.
O relógio torna-se o nosso melhor amigo, ou o pior. Na cabeça só passam os horários de fecho dos monumentos e o motorista torna-se mais do que nunca o "partner in crime".

Aqui vos deixo alguns exemplos, para aqueles que ainda acham que o guia passeia sem mais alguma preocupação:

- das 10h00 às 17h00 - Belém, Cabo da Roca, Palácio da Vila, Palácio de Mafra

- das 08h00 às 20h00 - Porto, Santiago de Compostela, Fátima, Montijo

- das 09h00 às 18h00 - Lisboa, Coimbra, Fátima, Porto

- das 09h00 às 13h30 - Palácio da Pena, Quinta da Regaleira, Cabo da Roca, Guincho

- das 08h30 às 18h00 -Évora, Estremoz, Castelo de Vide, Marvão.

e nos circuitos internacionais?



sexta-feira, 12 de abril de 2013

nós

Há uma característica portuguesa (ou talvez até dos povos do sul da Europa) que surpreende e agrada os estrangeiros: o à vontade com que falamos uns com os outros, mesmo se somos "estranhos".

Estava no eléctrico a caminho de Belém com um casal. Contava-lhe histórias e falavamos de trivialidades, quando noto que uma senhora se aproxima e diz-me:
"Estou a gostar tanto de a ouvir. Não se esqueça de os levar aos Kuchen" e sorri.
Com Kuchen queria ela dizer, os Pastéis de Belém em alemão.
Ao ouvirem a palavra em alemão, eles ficaram logo mais atentos ao que se estaria a passar.
A senhora continuou a contar que tinha aprendido alemão, mas que já esquecera tudo, no entanto adorava ouvir a língua e sempre que tinha oportunidade gostava de dizer alguma coisa.
Para que eles entedessem que a senhora estava apenas a ser simpática e a querer dar uma dica, expliquei-lhes a situação. Não fossem achar que íamos ser assaltados!!!

Agradeceram, sorriram, a senhora também e ela continuou. No tempo de 2 minutos esta senhora contou-me que morava ali perto e por isso vai aos pastéis sempre que pode, que adora ver Lisboa com estrangeiros, que adora dias de sol (como naquele dia) e que queria muito aproveitar a vida porque lhe tinha sido diagnosticado um cancro de mama que ela conseguira combater!

Em 2 minutos, sem me conhecer, esta senhora sentiu que podia dizer tudo isto!
A paragem chegou, despedimo-nos desejando sorte na Vida a cada um.

A reacção imediata do casal foi perguntar se eu a conhecia, se era da minha família, uma tia?
Não, apenas alguém que lhes quis indicar algo de forma a não falharem um must do em Lisboa e que sentiu que havia uma boa atmosfera para falar um pouco de si.
Contei-lhes o que me dissera.
Eles silenciaram um pouco e acrescentaram:
"os povos nórdicos nunca serão capazes de criar laços assim"


terça-feira, 9 de abril de 2013

"Estamos a criar pessoas sem apego e isso é tão perigoso"

Há momentos preciosos no meu trabalho, momentos em que uma conversa faz sentir clamor na esperança que tenho para o mundo: o da união.
Os líderes do mundo continuam a apregoar pela diferença e a liderar povos para a luta por se acharem superiores a outros. Continuam a fingir dar educação aos jovens, quando na verdade o que pretendem é controlar mentes.
 No entanto, aos poucos, as pessoas vão deixando de temer exprimir a sua opinião e vão desabafando, começam a lutar pelo que querem e defendem, pelo que sentem dentro de si.
Numa era de rapidez, de máquinas, de louvar o futuro, o aqui e o agora, numa era em que lemos mensagens de celebridade e fama, de dinheiro, de sexualidade sem pensar, de invasão total na privacidade, de reality shows, noto que a cada dia são mais as pessoas que dizem coisas como a deste senhor:

"Gostei muito de ouvir o que nos contaste. É importante haver pessoas que preservam a história dos locais, dos países, das tradições, do que somos porque fomos um dia. Pessoas que estudam e que passam a palavra, as histórias. A pressa, o presente, o querer ser-se famoso, está a matar quem somos e a levar ao esquecimento da história. E sem história nós somos nada. Estamos a criar pessoas sem apego e isso é tão perigoso."

 - Itália

O senhor falou mesmo assim, num tom meio poético. Eu queria tanto ter continuado esta conversa, mas aproximava-se o tempo de visitar outro monumento.


terça-feira, 2 de abril de 2013

ampliar

"Porque é que lamentamos as pessoas que não podem viajar?
Porque ao não poderem expandir-se exteriormente também não conseguem ampliar-se interiormente; ao não poderem multiplicar-se, vêem-se também privadas de empreender alargadas digressões para dentro de si próprias e de descobrir quem ou o que poderiam também ter sido"

- pascal mercier