segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Primeiro Coma Alcoólico

Digo, muitas vezes, que sinto-me abençoada nesta profissão: muitos problemas que surgem, de situações muito difíceis e até dolorosas de lidar com, raramente sucederam aos meus grupos. E algumas vezes tive colegas que me ajudaram a resolver os problemas, outras tive mesmo que os resolver sozinha, faz parte da profissão! Nunca tive que lidar com uma morte e só há bem pouco tempo tive um acidente, mas já tive que lidar com hospitais e roubos! 
 Um dos primeiros casos de pânico foi há alguns anos, mas foi um dos casos em que tive ajuda de uma colega, a Carla Mira. Era um daqueles grupos com centenas de pessoas. Aproximava-se o fim do evento e com ele os jantares de celebração. Um dos jantares realizou-se numa tenda montada no espaço envolvente ao hotel. As casas de banho situavam-se um pouco longe da mesma. Os clientes tinham à disposição carrinhos de golf para que pudessem ir da tenda à casa de banho. Eu e a Carla estavamos encarregues de coordenar essa logística. 
 Com as horas a passar, a festa a aumentar, a música já a soar e as danças, as bebidas foram sendo vertidas! Alguns grupos estavam mesmo muito animados. A dada altura um grupo de 4 rapazes muito cambaleantes pede um carrinho de golf. Oferecemos a nossa ajuda para os levar até à casa de banho porque não pareciam em condições de conduzir nem um carrinho de golf. Mas no meio de toda a euforia, os 4 conseguiram apoderar-se do carro. Enquanto um entrava para conduzir, outros brincavam a empoleirarem-se no pequeno carrinho e um dos rapazes cambaleava a caminho do carrinho com um ar muito ausente. Nisto agarrou-se ao carro, o condutor ligou-o e no primeiro solavanco, o rapaz mais cambaleante largou-se e caiu mesmo como uma tábua no chão. Não se mexia. 
Eu... primeira vez em tal situação... achei que ele tinha morrido. Fiquei em silêncio. Depois olhei para a Carla, e ela com um ar muito sereno: "vamos lá ajudá-los". E eu, inexperiente em tais situações, só lhe dizia: "ele morreu, ai que ele morreu. Ai Carla, ele morreu e agora!" Ou seja, não ajudava em nada. Os amigos nem percebiam o que se passava. E a Carla conseguiu que ninguém tocasse no rapaz, conseguiu acalmar-me de modo a que eu chamasse a ambulância. Conseguimos depois afastar os amigos que, penso eu, não percebendo a gravidade da situação, ainda queriam levar o amigo para a casa de banho, e disfarçar a situação a tal ponto que mais nenhum outro convidado conseguisse notar o acidente e com isso estragar a noite a todos. Passados uns minutos a ambulância chegou. 
O rapaz, entretanto, despertou e não sei como, não queria ir para o hospital. Mas teve que ir e a Carla foi com ele. Eu fiquei o resto da noite nos carrinhos a desejar que tal episódio não se repetisse. 
A Carla demorou quase duas horas a regressar, mas ainda voltou antes da festa terminar. E o rapaz também regressou, mas foi directo para o seu quarto. E ela contou: "o rapaz não parava de espernear, mas sem perceber sequer onde estava. 
E o bombeiro só dizia: olhe que não invejo nada a sua profissão!" 
 E nós, passados estes anos todos, rimos cada vez que nos lembramos desta noite. Rimos com o meu pânico, rimos com a calma dela e rimos ao pensar que um bombeiro, um homem que arrisca a vida, não inveja a nossa profissão!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Cinema

Hoje deixo-vos a sugestão de cinema português. Porque está a crescer, porque tem pernas para andar. Não precisamos almejar ser os Estados Unidos. Precisamos é fazer as coisas com dedicação e elas chegarão onde devem chegar. À satisfação.

Estreia dia 12 de Abril - Assim Assim

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Vindo dos céus


Cenário:
um mosteiro, uma guia, 40 turistas atentos à explicação da fachada.
um dia solarengo, pouco vento.

Acção:
a guia explica a fachada do mosteiro quando vindo dos céus um cócó de pombo lhe cai na cabeça!

Reacção:
a guia pára o discurso e pensa "não, isto não acabou de acontecer!"
alguns turistas tentam esconder o riso; outros abrem a boca de espanto; umas poucas senhoras procuram lenços na mala.
...
a guia ri, muito
todos riem com ela
chegam os lenços para limpar. Aponta-se para o céu, ri-se.

a fachada? que interesse tem a fachada?

"À Brás" versão vegetariana

Alho Francês à Brás

Ingredientes (para 2 ou 3 pessoas):
250g de batata palha já frita
250g de alho francês (parte branca)
0,5 dl de azeite
1 cebola
3 ovos
Salsa picada
Azeitonas pretas
Sal e pimenta

Preparação:
Corte a cebola e o alho francês às rodelas. Faça um refogado com azeite e cebola, a junte o alho francês e deixe refogar tudo.
Bata os ovos e tempere com sal e pimenta.
Junte a bata palha ao alho francês, mexa, junte os ovos batidos, mexa durante 30 segundos e apague o lume.
Polvilhe com salsa picada e decore com as azeitonas.
Acompanhe este prato com uma salada mista.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Apéro ou "sou o último?"

Confesso que já tinha saudades de ouvir: "Am I the last one?"

Perto da hora combinada com o grupo, após o tempo livre, as pessoas regressam ao autocarro. Os mais pontuais chegam um a dois minutos antes da hora; os extremamente preocupados com horários chegam 5 minutos antes da hora; a maioria na hora; os "foi sem querer" chegam 2 minutos depois e os despreocupados podem chegar a fazer o grupo esperar entre 5 a 10 minutos!
Toda esta teoria combina com certas nacionalidades. Não se deve generalizar, porque encontram-se todos os tipos em todas as nacionalidades, mas a verdade é que há características comuns em pessoas da mesma nacionalidade.
E a questão da pontualidade é uma delas!

Tendo em conta as nacionalidades com que mais trabalho, deixo-vos uma ideia de como tenho que pensar em quanto tempo livre dar, tendo em conta aquilo que já experienciei com pessoas dessa nacionalidade. Porque se estamos com pessoas que por norma chegam atrasadas,então em vez de 15 minutos damos 10, pois esses 5 minutos depois da hora definida, farão os 15 minutos estipulados à partida! Se estamos com pessoas muito pontuais podemos ser justos na hora dada!

Os povos do sul da Europa são por norma mais descontraídos na pontualidade, mas sem exageros. Por norma chegam na hora marcada, mas temos sempre quem chegue um a dois minutos depois com plena consciência de que não o deveria ter feito, mas com um sorriso na face, leveza e a prometer que na próxima paragem chegará na hora marcada e que só se atrasou porque precisava daquele minuto para aproveitar ao máximo esta única vez que aqui está e tirar a foto certa. De entre eles o italiano destaca-se por esticar muito esse atraso! Chega sempre em grande alvoroço, a contar as histórias mais atrapalhadas para que o atraso seja sempre justificável. Mas quem resiste a um gesticular de mãos e àquela sonoridade?

Creio que os brasileiros seguem aquele ditado russo que diz que "quem não usa relógio é mais feliz"!
Nunca chegam a horas, 5 minutos de atraso é garantido, 10 minutos ainda é normal, 15 começa a ser atraso e 20 é que pode gerar alguma ansiedade! Não estou a exagerar. Lembro-me da primeira vez que trabalhei com um grupo de brasileiros. O motorista dizia-me "não lhes dê o tempo certo, tem que tirar pelo menos 5 minutos para ver se eles chegam a horas". E eu pensava, meio nervosa, se o devia fazer, porque imaginava-os a chegar a horas e a perderem a oportunidade de aproveitar mais. Mas... rapidamente percebi que o motorista tinha toda a razão. E ao longo do dia, mesmo depois de terem sido avisados, eles não melhoram, mas pioram. O maior tempo de espera que tive foi de: 40 minutos após a hora combinada. Mas o que fazer quando descontração, samba e sorriso são as palavras chaves? Sorrir junto!

Para contrastar temos os franceses e os alemães: pontualidade ao máximo.
A hora marcada é a hora marcada. E atrasar significa uma grande falta de respeito para com o grupo. Compreendo, entendo, concordo.
Mas os alemães chegam ao extremo da pontualidade. Combinar, por exemplo, às 08h00 significa que às 07h50 chegam os primeiros e às 07h55 está o grupo todo à espera.
Por vezes às 07h50 ainda nem o autocarro chegou e eles já olham para o Guia-Intérprete com um ar muito sério e perguntam se há algum problema!
Estes grupos conseguem ter todas as pessoas a entrarem no autocarro à hora certa. E mesmo assim nenhum deles gosta de ser o último a entrar, mesmo quando verificam que estão todos ali apenas à espera que os da frente subam para o autocarro e que serão os últimos por uma questão de logística. Ainda assim o último pergunta com ar preocupado: "sou o último?"
É mesmo algo que os aflige - ser o último!
Quantas vezes os vemos a correr e ainda falta um minuto para a hora! Quantas vezes chegam perto de nós a querer explicar o porquê de pensarem que não estão a horas, e na verdade ainda faltam 30 segundos!
Penso sempre que é um stress desnecessário, talvez por ser parte de um desses povos mais descontraídos!!! E numa tentativa de mostrar que estão mais do que a horas e que não desrespeitaram ninguém sorrio, digo-lhes que estão na hora marcada e que mesmo que seja o último a entrar, alguém tem de o ser!
Agradecem 3 ou 4 vezes!
Quando há atrasos (atenção, atraso é logo apenas um minuto), sobretudo se se repetir em duas paragens, aplaudem ou vaiam a pessoa atrasada. É verdade, vaiar. Parece forte, mas na verdade é a sua cultura. E acreditem, a pessoa não repete. É a melhor arma que um Guia pode usar: deixar o grupo mostrar o quão prejudicial a pessoa pode ser ao atrasar-se.
Os franceses, sendo pontuais, não chegam a estar 10 minutos antes da hora, mas protestam também perante um atraso, um pequeno atraso. No entanto o seu protesto acaba por ser um pouco mais amigável: juntos começam a dizer "Apéro! Apéro! Apéro!" e batem palmas. Ou seja, a pessoa atrasada fica responsável de "pagar um copo" a cada pessoa do grupo para compensar o seu atraso!
Acabamos todos por rir, mas funciona. Na próxima vez chega-se a horas!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Botânicos precisam-se!!!


Não chove há talvez 2 meses, não tenho bem a certeza, mas tenho sentido que chegou a Primavera.
Vejo os campos a florir, sinto os animais mais agitados. Parece-me realmente que a Primavera chegou mais cedo.
Lembrei-me das Jacarandás de Lisboa. Lembrei-me das perguntas dos turistas em relação às árvores, flores, folhas, plantas, frutos... tudo o que seja botânica.
O meu maior medo!

Adoraria saber profundamente sobre esse mundo, porque na verdade quando se percebe a história por detrás de uma folha, deparamo-nos com um novo mundo e ficamos com vontade de perceber em que contexto crescem, quando florescem, quando dão fruto ou perdem a folha. Perceber o que nos oferece esse ser vivo: madeira, chá, medicamento... Saber de onde vieram, como chegaram aqui. Tantas possibilidades.

Alemães, franceses, ingleses têm um grande carinho por esse mundo. São pessoas que têm jardins ou um simples canteiro e que ficam boquiabertas quando vêem as nossas flores, porque, segundo me contam, o nosso clima permite que cresçam de tal forma que ficam praticamente irreconhecíveis para eles. As buganvílias no miradouro de Santa Luzia são um bom exemplo. Sempre que ali passamos ficam longos minutos a admirar a beleza da cor e do tamanho. Tiram tantas fotos que fica difícil continuarmos.
Ou insistir que "aquilo é uma nespereira. Sim, uma nespereira. Sim, o fruto come-se. Não, não é uma tangerina". Tenho tanta curiosidade em ver uma nespereira "lá fora".
Foi com eles que fui aprendendo ao longo dos anos.
Com eles, com a avó e com colegas de trabalho.
Aos pouco vou aumentando o meu saber, mas falta-me tanto.
Admiro os colegas que fazem visitas que incluem muito de botânica, como por exemplo, visitar a Madeira! Ali em vez de monumentos de pedra, temos jardins sem fim, com espécies certamente do mundo inteiro. Disse-me um vez um colega, que podia ficar à vontade uns 30 minutos a falar das Estrelícias! Admiro, porque sei o quanto os seus turistas ficam felizes com tal saber.
Admiro quem recebe uma folhinha na mão e sabe identificar a árvore.
O que quero dizer com a frase de cima? Os turistas têm por hábito chegar perto de nós com uma folha na mão e perguntarem: "que árvore é esta?"
As primeiras vezes só queria rir! Como seria possível ser essa folha tão importante. E saber que árvore seria através de uma folha?!
Ao longo dos anos fui percebendo o interesse e fui tentando saber mais. Aos poucos deixaram de ser apenas uma folha verde nas mãos daquelas pessoas!

Continuo a defender que pelo menos um semestre do estudo dos Guias-Intérpretes deveria ter a disciplina de botânica e agricultura. É essencial e não é algo fácil de encontrar como curso extracurricular.
Deixo a ideia a um colega que saiba mais sobre este assunto: organize um curso e certamente terá muitos interessados.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Um convite para Domingo dia 12 Fevereiro - Cascais


No domingo dia 12 de Fevereiro a Escola Método DeRose Cacais convida-o a passar a manhã com eles e a conhecer mais das suas técnicas.
Se já é aluno, traga um amigo que sente que vai gostar de os conhecer.
Se nunca praticou mas tem curiosidade, esta é a oportunidade ideal.

Vá experimentar, sem compromisso. O programa inclui:

10h00 Re-aprender a Respirar
10h30 Técnicas corporais com a ajuda do parceiro
11h30 Descontrair e Meditar
12h00 com um Chai (chá de especiarias) no nosso terraço!

Será uma manhã muito divertida.

Deixo aqui os contactos:
Travessa Emídio Navarro, nº8A 2750-493 Cascais
tlf: 211 976 871

Cartas


Abrir o correio.
Ver um envelope com uma morada inesperada.
Questionar enquanto o abrimos.

Sorrir.
Sentir que deixamos algo nos outros.

Lá dentro estava uma carta de uma senhora alemã a recordar um passeio em Portugal, a agradecer, a contar um pouco mais de si e da sua vida, a desejar sorte para a minha vida.
Junto vinham fotos desses dias e do seu cantinho.
Este é o seu jardim.

Danke schön!

Rapidez no gatilho

Nos primeiros tempos de trabalho quando esbarramos num problema ou num pedido que no momento quase parece absurdo e impossível de solucionar, começamos a suar, a tremer, a silenciar ou a falar demais. Por vezes bloqueamos e só apetece telefonar à mãe e ao pai a pedir socorro. Noutras situações queremos agir tão depressa que tomamos decisões sem pensar nas suas consequências.
O melhor é parar um pouco, respirar fundo, lembrarmo-nos se estamos perante uma situação ensinada no ensino superior (como um acidente, um assalto, uma morte...) ou se é algo com que já lidamos no passado.
Há muito em que pensar e, apenas com o tempo e as mais variadas situações, aprendemos a agir com certa naturalidade, mesmo que por dentro estejamos em pânico.

Algo com que os Guias-Intérpretes lidam muito é a pressão do horário: chegar a determinado sítio a determinada hora, impreterivelmente.
Quando é-nos entregue um programa com horas rigorosas estudamos o percurso de forma a que estejamos no local pretendido à hora pretendida. Temos de pensar sobretudo no trânsito, de lembrar estradas e fluxos de trânsito para escolhermos o melhor. Mas por vezes, e utilizando uma expressão bem portuguesa, "sai o tiro pela culatra".
Mas chegamos à hora pretendida.
No entanto, por vezes, ao longo do caminho, ligam-nos do lugar de destino a pedir para chegarmos mais depressa, ou para atrasarmos, pelos motivos mais diversos possíveis. E esse atraso varia de 5 a, acreditem, 15 minutos.
Rapidamente temos que escolher outro caminho, sem dar a entender que estamos a fazê-lo.
Chegar mais rápido é fácil, agora atrasar... é dos momentos que gosto menos.
O motorista, gentilmente, abranda de imediato, mas por vezes tem que voltar a relembrá-lo (sobretudo se o jogo do Benfica estiver para começar!). Depois tentamos abrandar de modo a conseguir parar em todos os sinais vermelhos (mas quantas vezes estamos com pressa e não temos nenhum sinal verde! ou precisamos atrasar e não conseguimos apanhar um único sinal vermelho. Parece de propósito!). Optamos também por fazer caminhos com mais monumentos para termos mais a explicar. Tentamos, acima de tudo, agir como se esse fosse o caminho mais que habitual para o tal destino.

Certa vez estava com um grupo que tinha um jantar marcado no CCB. Estavamos em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, mas já quase na curva para o CCB quando ligam-me a pedir para atrasar 10 minutos.
10 minutos? E eu em frente ao Mosteiro!
Mas tinha que o fazer, "por favor" diziam eles do outro lado da linha.
De imediato pedi ao motorista para abrandar e rapidamente disse "precisamos de 10 minutos". "Então e agora?". "abrande e ande muito, muito devagar, vou explicar a fachada".
E assim o fiz. A explicação já não poderia ser profunda, visto já estarmos quase a deixar de ver o mosteiro. Rapidamente reinventei o discurso. Apontei o Planetário, demos a volta à Praça do Império, que por sorte tinha a fonte a funcionar. Paramos de modo a poderem ver o Padrão dos Descobrimentos. Fiz questão de salientar a ponte e até, imaginem, conseguimos ver o Cristo Rei. Não é linda esta paisagem?
E nisto toca o telefone: "podem vir".
Terminamos o circulo à volta da praça! Eu só pensava se aquilo tudo parecia um carrossel! Paramos à porta do CCB, eles saíram e alguns disseram: "foi muito interessante, Lisboa é bonita".
Sorri e por dentro exclamei "Uff".
Trabalho de equipa!