terça-feira, 28 de maio de 2013

História do Filipe Alves - "é aqui que é o shuttle?"

Dia de cruzeiro em Lisboa, com tours de manhã e de tarde.

Cheguei ao cais para o tour da tarde, recebi a ordem de serviço, dirigi-me ao autocarro e os clientes começaram logo também a chegar. Não tive tempo para abrir sequer o envelope e ler a descrição do tour. Comecei logo a recolher bilhetes, responder a perguntas, chamar o motorista. A azáfama parou um pouco quando tive de aguardar os poucos que faltavam. Nesse momento abri finalmente o envelope para ver como seria o tour.
Espanto: tour de Lisboa em alemão e italiano!
Pois bem, eu não falo italiano!
Fui o mais rapidamente possível ter com a responsável da agência para perguntar se seria um erro ou se era mesmo assim e o que é que deveriamos fazer?
Caos - era mesmo assim. Naquele momento, não havia um único colega que falasse as duas línguas. Como iriamos resolver?
Começaram os telefonemas a tentar descortinar um guia em 2 minutos quando... aparece o Filipe.

O Filipe terminara o seu tour, entregara todas as suas coisas e procurava o shuttle. Aproximou-se do meu autocarro e perguntou: "é aqui o shuttle para o centro? Posso ir de boleia?". O Filipe tinha finalmente uma tarde livre e queria ir descansar!
Pobre Filipe, em 30 segundos, sentiu uma mão no ombro e uma voz que lhe dizia:
 - Filipe, entre aí e comece o tour de Lisboa com a Cátia. Ela fala o alemão e o Filipe o italiano!
Dizendo isto, saiu de perto de nós.

O Filipe nem tinha percebido o que lhe tinha acontecido e eu só conseguia rir!

Um autocarro cheio, eu no banco do guia, o Filipe sentado no degrau (a arriscarmos várias multas da polícia) e começamos um tour em que adivinhámos mais ou menos o que cada um disse, a tentar que a informação fosse o mais semelhante possível, não fosse estar alguém no autocarro que entendesse as duas línguas.

Sempre que nos vemos rimos muito. E foi assim que fiquei a conhecer o Filipe.

Quando pessoas de outra profissão me dizem que é um abuso pedirem-lhes para ficar mais 5 minutos no trabalho, eu penso nesta situação (entre muitas outras). Os guias e os amigos dos guias aprendem que em 2 minutos todo o horário disponível do guia muda, porque como é que vamos deixar um tour pendurado, sabendo como isso iria prejudicar uma agência, mesmo que o que mais nos apeteça é ir descansar para casa ou ir fazer aquela coisa que estava combinada com certa pessoa?
É por atitudes assim que acho que por vezes os guias deveriam ser uma bocadinho mais valorizados ;)


2 comentários:

  1. É sempre com um sorriso estampado na cara que relembro esse serviço que fiz contigo, que foi sem dúvida, um dos mais atribulados e divertidos que já vivenciei :) "O último dia em que procurei o shuttle de forma tão inocente" é um bom exemplo desta invulgar capacidade de nós guias nos adaptarmos a todas as circunstâncias e de descomplicar situações. Obrigado pela partilha. Uma boa época para ti :)

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  2. Tem mesmo a cara do Filipe! Sem ter assistido a nada consigo visualizar... Todos os guias fossem assim e a profissão era vista com outros olhos. Orgulhosa de ti, Filipe, e dos elementos da nossa turma que não se envergonham do que fazem, mas especialmente dos que não se envergonham do meu trabalho :)

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