sábado, 10 de novembro de 2012

Personagens - o vencedor da maratona

Num grupo há sempre alguém que na verdade não gosta assim tanto de fazer visitas em grupo e que preferia ter o guia só para si, a fazer o programa no seu tempo e ritmo, a visitar os locais que mais deseja sem ter a interferência de mais 40 pessoas. Alguém que acabou por ir em grupo porque as pessoas com quem foi preferem esse sistema.
Essa pessoa, por norma, nunca está satisfeita com o tempo dado para visitar um local ou para ter de tempo livre. Essa pessoa acha sempre que os outros perguntam coisas sem interesse. Essa pessoa acha sempre que o restaurante recomendado devia ser outro. Essa pessoa acima de tudo, anda sempre mais depressa que os outros e não quer esperar por mais 40 pessoas.

A situação em que se nota quem é essa pessoa é logo ao início, assim que saímos do autocarro e começamos a pimeira das visitas a pé. A reacção normal de um grupo é seguir o guia, deixando-se ficar atrás dele porque não conhece o caminho.
O vencedor da maratona não, ele anda à frente do guia. Ele sai decidido, com passos seguros e rápidos. Só quando não ouve o barulho característico de 40 pessoas perto dele é que pára e olha para trás e lança aquele olhar crítico de quem diz:  "não conseguem andar mais depressa?". E retoma o caminho.

Como guia eu respeito o ritmo do grupo, se noto que têm todos muita energia e que conseguem impôr um ritmo rápido (quando um grande número dá a entender que poderia andar na minha frente) eu coloco o meu passo rápido! E não queiram um guia com passo rápido! ahahah
Se tenho um grupo mais descansado ou com mais idade escolho o passo lento (que aprendi ao longo destes anos, não imaginam quão lento pode ser um passo - o que custa depois é voltar a andar a um ritmo normal eheh).
Mas o vencedor da maratona... não percebe como pode dificultar uma simples caminhada. Ao andar mais rápido ele cria ansiedade nos outros e por vezes há pessoas que não podem mesmo acompanhá-lo, por serem mais velhas ou terem problemas já nas pernas. Isso cria até tristeza na pessoa que começa a pensar que está a impedir o grupo de aproveitar o seu passeio. Ao andar mais rápido ele obriga o guia a redobrar ou triplicar a atenção, porque além de olharmos para as pessoas atrás de nós, para aqueles que se perdem a ver uma vitrine, ainda temos que ter o cuidado de ver se ele não virou para a rua errada porque pensa que sabe o caminho e não sabe.

A forma de "educar" essa pessoas aprendi ao longo dos anos: - Atraso o passo até saber que vamos chegar a um cruzamento, deixo-o escolher o caminho (porque sim, o vencedor acha normalmente que sabe se é para a esquerda ou direita, raro é aquele que pára e pergunta) e como quase sempre escolhe o errado, deixo-o ir por uns metros e depois começo a chamá-lo. Como nunca reage à primeira para mostrar que sabe, o grupo começa a ajudar a chamar e a dizer-lhe "estás no caminho errado" com certa preocupação. Aí, ele cede e a partir daquele momento abranda o passo. E a partir daquele dia caminha mais lentamente, mas não deixa de ir à frente! Mas já registou na sua mente que terá que olhar para trás e perguntar nem que seja por um simples gesto ou olhar se é esquerda ou direita e a respeitar o ritmo dos outros.

Em férias aprendam a abrandar. É também para isso que elas servem.


5 comentários:

  1. A minha vingança sobre os guias!

    Pessoalmente não me considero maratonista, muito pelo contrário, faço parte dos sombras, que fazem questão de estar sempre colados ao guia (de uma forma irritante) para ouvir as explicações e tentar levar mais uma história para casa.

    Este ano enquanto passeava pela terra do Ivan, e depois de estar farto da aplicação audio guide que tinha no telemóvel, resolvi juntar-me a um simpático grupo de asiáticos. Não demorou mais do que 5 minutos para que a guia interrompesse a explicação e me perguntasse se precisava de ajuda!?

    Disse obviamente que não e que estava apenas a apreciar a sua dedicada explicação. Ela retorquiu que não lhe parecia muito correto uma vez que os indivíduos se encontravam certamente incomodados com a minha presença uma vez que não tinha pago como eles ou não fazia parte do grupo :(
    Ao que os chinesinhos responderam em grupo:

    “Noooooo(x0.5 speed of speech)
    We don’t mind!(x3.0 speed of speech)”

    E lá continuei com o grupo…
    Sempre respeitando a harmonia da deslocação em manada.
    :p

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  2. Fico contente de saber que ficou farto da aplicação do audio guide em telemóvel e que preferiu uma pessoa real! :D

    Quanto à reacção da colega devo dizer que ela procedeu como um grupo espera que façamos. Verdade seja dita: há formas e formas de se dirigir à pessoa fora do grupo, mas a situação de pessoas extra grupo a ouvirem as explicações do guia é algo com que nos deparamos quase todos os guias e acredite que a maioria dos grupos não reage como esses chineses. teve sorte, eles foram muito simpáticos.
    Só para lhe dar alguns exemplos do que já vivi em situações assim após a aproximação do elemento extra grupo: pessoas do grupo que pediram o dinheiro a esse "elemento exterior"; pessoas do grupo que fizeram barreira para colocar a pessoa mesmo fora do campo de visão e de audição; pessoas do grupo que gritaram, até pessoas do grupo que reclamaram comigo porque ainda não tinha reparado que alguém "de fora" estava a aproveitar-se de um serviço pago pelo grupo.
    A situação parece simples e de fácil trato, e no início da minha vida profissional eu não prestava muita atenção a esse pormenor. Mas o tempo ensinou-me o peso dela e na verdade há momentos em que temos que nos dirigir ao elemento fora do grupo. Agora, volto a repetir, há modos diferentes de o fazer.
    Ainda bem que os chinesinhos foram simpáticos!

    e... ainda bem que gosta de ouvir o guia e que respeita a deslocação em manada, não imagina como tudo fica mais fácil :)

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  3. eu também gostaria de usufruir de muitos serviços sem ter pagar...

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  4. Ficou por adivinhar onde encontrei eu tal simpático grupo...

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