domingo, 5 de fevereiro de 2017

O dia em que perdi não uma, nem duas, mas todas as pessoas do grupo!

Há muitos anos atrás vivi uma peripécia que ainda hoje me deixa num misto de enormes gargalhadas com a recordação dos nervos daquela noite.

Cheguei ao hotel para ir buscar um pequeno grupo que tinha no seu programa uma panorâmica por Lisboa e jantar num restaurante do Bairro Alto.
Muito simpáticos, bem dispostos, entramos no autocarro, percorremos a cidade e paramos no Miradouro de São Pedro de Alcântara. Dali tínhamos de continuar a pé até ao restaurante.
Expliquei-lhes que o nosso motorista iria voltar aqui para nos levar de volta ao hotel após o jantar, mas que eu me encontraria, na mesma, com eles no restaurante para os trazer até ali.
Repeti algumas vezes, perguntei se tinham percebido bem, disseram que sim.

Lá fomos nós. Chegados ao restaurante, fiquei até os pedidos estarem todos feitos e terem começado a servir as entradas. Fui então jantar noutro sítio, pois desta vez não estava programado eu ficar no mesmo restaurante que o grupo.
Não estando no mesmo local que o grupo é sempre mais difícil coordenar a hora de saída, pois nunca sabemos a que ritmo estão a comer, a ser servidos, se vão pedir digestivos, se alguém quer ir embora mais cedo e precisa de um táxi, etc, como podem verificar é sempre preferível ficar com o grupo, mas nesta noite, por impossibilidades de reserva, não era mesmo possível eu ficar. Decidi deixar o meu cartão com o meu contacto telefónico e pedi à chefe de sala que me avisasse caso o grupo precisasse de algo e quando percebesse que o grupo queria regressar, explicando que eu iria voltar ao restaurante para os levar de regresso ao hotel.
Despedi-me com um até já.

Fui jantar, liguei duas vezes para ir sabendo como tudo estava a decorrer. A chefe de sala repetia que não me preocupasse, pois ligaria assim que eles terminassem para que eu pudesse ir andando para o restaurante. Não fui logo após terminar o meu jantar, porque o restaurante do grupo era tão pequeno e estava completamente lotado que eu não tinha literalmente uma cadeira para esperar, nem uma outra sala, nem um lobby. Se entrasse no restaurante sem o grupo ter terminado, teria que ficar tal qual uma sentinela à porta do mesmo!
O tempo passava, passava, passava e o telemóvel não tocava. Para não parecer chata, decidi ir até ao restaurante e ficar na rua se assim fosse preciso, apesar da hora e do frio.
Entro, olho para a mesa onde estava o grupo e não vejo ninguém. Ninguém.
Procurei a chefe de sala e perguntei onde estavam. Responde-me muito calmamente: "foram embora"!
Como assim foram embora? Gritei no meu cérebro!
Pensei que estava a brincar comigo e ela repetia, que sim, que tinham ido. Perguntei porque não me telefonara tal como tínhamos combinados, explica-me que eles lhe disseram que sabiam onde tinham de ir e que não era preciso!
Eu não queria acreditar. O meu coração batia a mil, só os imaginava perdidos pelo bairro, sem saberem onde estava o autocarro, só pensava na agência que me chamara e que iria ficar bem zangada comigo, ao mesmo tempo ía tentando acalmar-me a recordar-me de que na verdade estava a lidar com adultos que certamente iriam encontrar o caminho de volta, mas... acreditem a sensação é terrível. Parece que tinha deixado filhos pequenos perdidos numa cidade estranha.

Liguei ao motorista aflita, a tentar explicar tudo. O motorista era alguém com quem trabalhava regularmente, daqueles bons profissionais que se tornam amigos. Entre tentar acalmar-me, procurar soluções e fazer-me rir, ele foi impecável. Ainda hoje quando nos vemos falamos deste grupo e brinca sempre comigo e a minha aflição.
Ele decidiu ir para o ponto de encontro, quem sabe eles estariam lá, eu fui percorrer o bairro a pé, mas nada, ninguém.  Cheguei ao autocarro, demos uma volta pelas ruas em torno do bairro e por fim fomos para o hotel. Riamos, imaginavamos os piores cenários possíveis, imaginamo-nos despedidos, riamos, eu quase chorava, uma emoção!
Liguei ao hotel, à project manager e não é que nesse momento ela diz-me assim "ía mesmo ligar-te agora, porque o chefe do grupo chegou ao hotel e pediu para que me ligassem preocupado, porque queria que te avisássemos que eles já estavam de regresso e que tinham percebido que não tinham cumprido as tuas "ordens" e que imaginavam-te muito preocupada com eles. Queriam pedir-te desculpa.".

Não queria acreditar! Que pessoas mais espectaculares!
É que, quando situações bem menos complicadas que esta acontecem, as pessoas de imediato colocam a culpa no Guia e no Motorista, logo. Fiquei perplexa e tão agradecida.

O Jorge Humberto (o motorista) só ria e ria e ria.
Eu depois também.

No dia seguinte tinha tour com eles e a primeira coisa que me disseram foi "desculpa".

Esta é mesmo daquelas estórias para mais tarde recordar!


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